Page 55 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Balearam o velho — respondeu calmamente. Quando percebeu no rosto dela o choque
que lhe causara a notícia, acrescentou asperamente: — Não se preocupe, ele não está morto. E
nada mais vai acontecer.
Nada comentou a respeito de Hagen. E então o telefone tocou pela quinta vez.
Era Clemenza. A voz do gorducho veio ofegante pelo telefone em arfadas rosnantes:
— Você já sabe o que aconteceu a seu pai? — perguntou.
— Sim — respondeu Sonny. — Mas ele não está morto.
Houve uma longa pausa e depois a voz de Clemenza fez-se ouvir com repassada emoção:
— Graças a Deus, graças a Deus! Você tem certeza? — acrescentou ansiosamente.
Disseram-me que ele estava morto na rua.
— Ele está vivo — retrucou Sonny.
Sonny prestava atenção na entonação da voz de Clemenza. A emoção parecia autêntica, mas
era parte da profissão do gordo ser um bom ator.
— Você vai ter de trabalhar muito, Sonny — disse Clemenza. — Que é que você quer que eu
faça?
— Vá até a casa de meu pai — respondeu Sonny. — Traga Paulie Gatto.
— Só isso? — perguntou Clemenza. — Não quer que eu mande alguns homens para o
hospital e para a sua casa?
— Não, quero apenas você e Paulie Gatto. — Houve uma longa pausa. Clemenza estava
entendendo a coisa. Para dar à situação um aspecto um pouco mais natural, Sonny perguntou: —
Onde diabo estava Paulie, afinal? Que diabo estava ele fazendo?
Não havia mais ofegação do outro lado da linha. A voz de Clemenza era cautelosa.
— Paulie estava doente, apanhara um resfriado, assim ficara em casa. Ele tem estado um
pouco doente todo o inverno.
Sonny muito prontamente perguntou:
— Quantas vezes ele ficou em casa nos últimos dois meses?
— Talvez três ou quatro — respondeu Clemenza. — Sempre perguntei a Freddie se ele
queria outro sujeito, mas ele disse que não. Não há motivo, nos dez últimos anos as coisas têm
andado bem calmas, você sabe.
— Sim — retrucou Sonny. — Eu o verei em casa de meu pai. Não deixe de trazer Paulie.
Apanhe-o no caminho. Não me importo quão doente ele esteja. Entendeu? — Bateu com o
telefone no gancho sem esperar resposta.
Sua mulher estava chorando silenciosamente. Sonny olhou para ela por um momento, depois
disse com voz áspera:
— Se alguém do meu pessoal telefonar, diga-lhe para chamar-me na casa de meu pai pelo
telefone especial. Se for outra pessoa qualquer, você não sabe de nada. Se a mulher de Tom
tocar, diga-lhe que Tom demorará um pouco a chegar em casa, ele está a serviço. — Ele
ponderou por um momento. Viu o medo estampado no rosto dela e disse impacientemente: —
Você não precisa ficar assustada, eu os quero aqui. Faça o que eles lhe mandarem fazer. Se você
quiser falar comigo, chame-me pelo telefone especial do papai, mas não me telefone a menos
que seja realmente importante. E não se preocupe.
Em seguida, saiu de casa.
Já era noite fechada e o vento de dezembro soprava fortemente pela alameda. Sonny não
tinha medo de andar por ali no escuro. Todas as oito casas eram de propriedade de Don
Corleone. Na entrada da alameda, as duas casas de cada lado eram alugadas a servidores da
Família com suas próprias famílias e seus dependentes, homens solteiros que viviam nos
apartamentos do subsolo. Das outras seis casas que formavam o resto do semicírculo, uma era
habitada por Tom Hagen e sua família, de sua propriedade, e a menor e menos pretensiosa, pelo
próprio Don Corleone. As outras três eram habitadas graciosamente por amigos aposentados de
Don Corleone com a condição de que seriam desocupadas quando ele o exigisse. A alameda,