Page 51 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 51
com a família. Ambos compreendiam que Michael já havia feito isso até certo ponto e se
sentiam culpados com respeito a esse fato. Planejavam terminar o curso, vendo-se um ao outro
nos fins de semana e vivendo juntos durante as férias de verão. Isso lhes parecia uma vida feliz
A peça a que assistiam era um musical chamado Carousel, cuja história sentimental de um
ladrão farofeiro os fez rir alegremente. Quando saíram do teatro, fazia frio. Kay aconchegou-se
a ele e disse:
— Depois que a gente se casar, você vai bater-me e depois roubar uma estrela para me dar
de presente?
Michael deu uma gargalhada.
— Vou ser professor de Matemática — declarou. — Em seguida, perguntou: — Você quer
alguma coisa para comer antes de irmos para o hotel?
Kay balançou a cabeça. Olhou para ele expressivamente. Michael, como sempre, estava
excitado pela ânsia dela de fazer amor. Riu para ela, e os dois se beijaram na rua fria. Michael
sentia fome e resolveu pedir que mandassem sanduíches para o quarto.
No saguão do hotel, Michael empurrou Kay para a banca de jornais, dizendo:
— Apanhe os jornais, enquanto pego a chave.
Ele teve de esperar numa pequena fila; o hotel estava ainda com falta de empregados,
apesar de já ter terminado a guerra. Michael apanhou a chave do quarto e procurou Kay em
volta, com os olhos, impacientemente. Ela estava a lado da banca, com os olhos fixos no jornal
que segurava na mão. Ele se encaminhou na direção dela. Kay olhou para ele, com os olhos
cheios de água.
— Oh, Mike! — exclamou ela. — Oh, Mike!
Michael tirou o jornal das mãos dela. A primeira coisa que viu foi uma fotografia do pai
caído na rua, com a cabeça numa poça de sangue. Um homem estava sentado no meio-fio
chorando como uma criança. Era seu irmão Freddie. Michael Corleone sentiu o corpo ficar
gelado. Não havia pesar, nem medo, apenas raiva fria. Ele disse para Kay:
— Suba para o quarto.
Mas teve de tomá-la pelo braço e conduzi-la para o elevador. Subiram em silêncio. Ao
chegarem ao quarto, Michael sentou-se na cama e abriu o jornal. As manchetes diziam:
VITO CORLEONE BALEADO.
SUPOSTO CHEFE DE EXTORSIONÁRIOS
GRAVEMENTE FERIDO.
OPERADO SOB FORTE PROTEÇÃO POLICIAL.
TEME-SE SANGRENTA GUERRA DE Q UADRILHAS.
Michael sentiu fraqueza nas pernas. Disse para Kay:
— Ele não está morto, os canalhas não o mataram.
Leu a notícia novamente. Seu pai tinha sido baleado às cinco horas da tarde. Isso significava
que, enquanto ele estava fazendo amor com Kay, jantando, deleitando-se no teatro, o seu pai
estava à morte. Michael começou a sentir-se pesarosamente culpado.
— Vamos ao hospital agora? — perguntou Kay.
Michael balançou a cabeça.
— Deixe-me telefonar para casa primeiro. O pessoal que fez isso está maluco, e como o
velho continua vivo, muita gente está desesperada. Que diabo sabe o que esse pessoal vai fazer
em seguida.
Ambos os telefones na casa de Long Beach estavam ocupados e Michael teve de esperar
quase vinte minutos para conseguir ligação. Finalmente ouviu a voz de Sonny dizer:
— Sim.