Page 53 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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fruteiro só discordou de suas decisões uma vez, para mostrar-lhe que uma das frutas por ele
escolhidas tinha um lado podre. Don Corleone pegou o saco de papel com a mão esquerda e
pagou ao homem com uma nota de cinco dólares. Apanhou o troco, e quando se virou para voltar
para o carro que o esperava, dois homens vieram da esquina. Don Corleone sabia imediatamente
o que estava para acontecer.
Os dois homens usavam sobretudos pretos e chapéus também pretos puxados para baixo, a
fim de esconder o rosto. Não esperavam a pronta reação de Don Corleone. Este deixou cair o
saco de frutas e correu para o carro estacionado com uma rapidez espantosa para um homem de
seu volume, ao mesmo tempo em que gritava:
— Fredo, Fredo!
Foi então que os dois homens puxaram suas armas e dispararam.
O primeiro tiro pegou Don Corleone nas costas. Ele sentiu o choque violento do impacto, mas
moveu-se até o carro. As duas balas seguintes atingiram-no nas nádegas e fizeram-no cair
estatelado no meio da rua. Entrementes, os dois pistoleiros, tomando cuidado para não escorregar
nas frutas que rolavam no chão, partiram em direção a ele a fim de acabar de liquidá-lo. Nesse
momento, talvez num máximo de cinco segundos depois que Don Corleone gritara para o filho,
Frederico Corleone apareceu fora do carro, assomando sobre ele. Os pistoleiros deram mais dois
tiros em Don Corleone que estava deitado na sarjeta. Um o atingiu na parte carnosa do braço e o
outro na barriga da perna direita. Embora esses ferimentos fossem os menos graves, sangravam
abundantemente, formando pequenas poças de sangue ao lado de seu corpo. Porém, nessa altura,
Don Corleone tinha perdido a consciência.
Freddie ouvira o grito do pai, chamando-o pelo apelido de infância, e em seguida escutava os
dois primeiros estampidos. No momento em que saiu do carro, ele se achava em estado de
choque, não tendo sequer sacado a arma. Os dois assassinos podiam facilmente tê-lo abatido a
tiros. Mas eles também estavam em pânico. Deviam saber que o filho se encontrava armado, e
além disso muito tempo havia passado. Desapareceram na esquina, deixando Freddie sozinho na
rua com o corpo ensangüentado do pai. Muitos transeuntes que atravancavam a avenida
lançaram-se para as portas ou no chão, outros em pequenos grupos.
Freddie, contudo, não puxara sua arma. Parecia atordoado. Olhava fixamente para o corpo
do pai que jazia de bruços no asfalto, deitado agora no que lhe parecia ser um escuro lago de
sangue. Freddie estava traumatizado. Gente afluía novamente, e alguém, vendo-o começar a
desfalecer, conduziu-o até o meio-fio e fê-lo sentar-se ali. Uma multidão se formou em torno do
corpo de Don Corleone, um círculo que se desmanchou quando o primeiro carro da polícia tocou
a sirena para abrir caminho. Diretamente atrás da polícia vinha o carro do Daily News e, mesmo
antes de ele parar, um fotógrafo saltou para bater chapas de Don Corleone esvaindo-se em
sangue. Alguns momentos depois, chegou uma ambulância. O fotógrafo voltou sua atenção para
Freddie Corleone, que agora chorava abertamente, e isso era uma cena curiosamente cômica,
devido ao seu rosto duro de cupido, nariz grande e boca espessa lambuzada de muco. Agentes se
espalhavam pela multidão e mais carros da polícia chegavam. Um detetive ajoelhou-se ao lado
de Freddie, interrogando-o, mas Freddie se achava em profundo estado de choque para
responder. O detetive meteu a mão no bolso interno do casaco de Freddie e tirou sua carteira.
Olhou para a identificação aí contida e assoviou para o companheiro. Em poucos segundos,
Freddie foi isolado da multidão por um numeroso grupo de policiais à paisana. O primeiro
detetive encontrou o revólver de Freddie em seu coldre e tirou-o. Então levantaram o rapaz e
puseram-no de pé, empurrando-o para dentro de um carro sem marca da polícia. Quando o
veículo se afastou, foi seguido pelo carro do Daily News. O fotógrafo estava ainda ba tendo
chapas de tudo e de todos.
Na meia hora após o atentado a tiros contra seu pai, Sonny Corleone recebeu cinco
telefonemas em rápida sucessão. O primeiro foi do Detetive John Phillips, que constava da folha
de pagamento da Família e estivera no carro da frente de policiais à paisana no local do crime. A
primeira coisa que ele perguntou a Sonny pelo telefone foi: