Page 48 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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proteção legal. Não tenho preocupações com as operações, é isso o que você quer dizer?
    Sollozzo acenou a cabeça afirmativamente.
    —  Se  o  senhor  acha  que  dois  milhões  de  dólares  em  dinheiro  são  um  “simples
  financiamento”, eu o felicito, Don Corleone.
    Don Corleone falou calmamente:
    — Consenti em vê-lo, em virtude do meu respeito pelos Tattaglia e porque ouvi dizer que o
  senhor é um homem sério que também merece ser tratado com respeito. Devo dizer-lhe não,
  mas devo dar-lhe minhas razões. Os lucros em seu negócio são enormes, mas também o são os
  riscos.  A  sua  operação,  se  eu  fizesse  parte  dela,  poderia  prejudicar  meus  outros  interesses.  É
  verdade  que  tenho  inúmeros  amigos  na  política,  mas  eles  não  seriam  tão  cordiais,  se  meu
  negócio fosse narcóticos em vez de jogo. Eles pensam que o jogo é algo como a bebida, um vício
  inofensivo, e acham que o narcótico é um negócio sujo. Não, não proteste. Estou-lhe dizendo a
  opinião deles, não a minha. Como um homem ganha a vida é assunto que não me interessa. E o
  que estou dizendo é que esse seu negócio é muito arriscado. Todos os membros de minha Família
  têm vivido bem nos últimos dez anos, sem perigo, sem prejuízo. Não posso expor ao perigo esses
  homens ou seus meios de vida por simples ganância.
    O único sinal de decepção de Sollozzo foi uma rápida piscadela em torno da sala, como que
  esperando que Hagen ou Sonny falasse em seu favor
    — O senhor está preocupado com a garantia que posso oferecer aos seus dois milhões? —
  perguntou, logo depois.
    Don Corleone sorriu friamente.
    — Não — respondeu.
    Sollozzo fez nova tentativa.
    — A Famfiia Tattaglia garantirá também o seu investimento.
    Foi  então  que  Sonny  Corleone  cometeu  um  erro  imperdoável  de  julgamento  e  conduta.
  Perguntou ansiosamente:
    —  A  Família  Tattaglia  garante  a  volta  do  nosso  investimento  sem  nos  tirar  qualquer
  percentagem?
    Hagen ficou horrorizado com essa interrupção. Ele viu Don Corleone ficar frio, com os olhos
  maldosos pousados no seu filho mais velho, que ficou gelado de aflição incompreendida. Os olhos
  de Sollozzo piscaram novamente, mas desta vez com satisfação. Tinha descoberto uma fenda na
  fortaleza de Don Corleone. Quando este falou, sua voz denotava desaprovação.
    — Os jovens são gananciosos — disse. — E hoje em dia não têm modos, interrompem os
  mais velhos e metem  o  bedelho.  Mas  tenho  uma  fraqueza  sentimental  pelos  meus  filhos  e  os
  tenho mimado. Como vê, Signor Sollozzo, meu “não” é final. Digamos que eu particularmente
  lhe  desejo  boa  sorte  no  seu  negócio.  Não  entra  em  conflito  com  o  meu.  Lamento  ter  de
  decepcioná-lo.
    Sollozzo curvou-se, apertou a mão de Don Corleone e se deixou conduzir por Hagen até o seu
  carro. Não havia qualquer expressão em seu rosto quando ele se despediu de Hagen.
    Quando Hagen voltou à sala, Don Corleone perguntou-lhe:
    — Que é que você pensa desse homem?
    — Ele é siciliano — respondeu Hagen secamente.
    Don Corleone balançou a cabeça pensativamente. Depois virou-se para o filho e disse com
  brandura:
    — Santino, nunca deixe nenhum estranho à Família saber o que você pensa. Nunca deixe
  alguém saber o que pensa intimamente. Acho que os seus miolos estão amolecendo com toda
  essa comédia que você está representando com essa moça. Pare com isso e passe a dar atenção
  aos negócios. Agora, saia da minha vista.
    Hagen viu a surpresa estampada no rosto de Sonny, depois a raiva ante a reprovação do pai.
  Pensava realmente que Don Corleone ignoraria tal conquista, Hagen duvidava. E não sabia ele
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