Page 43 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 2
    TOM HAGEN foi para o seu escritório de advocacia na cidade, na manhã de terça-feira. Ele
  planejava pôr em dia a sua papelada, a fim de ficar plenamente desimpedido para a reunião
  com Virgil Sollozzo. Reunião esta de tamanha importância que ele solicitara a Don Corleone a
  tarde  inteira  para  conversação  e  preparar-se  para  a  proposta  que  eles  sabiam  que  Sollozzo
  ofereceria ao negócio da Família. Hagen desejava ter todos os pequenos detalhes esclarecidos, a
  fim de poder ir à reunião preparatória de espírito prevenido.
    Don Corleone pareceu não se surpreender quando Hagen voltou da Califórnia na terça-feira,
  tarde  da  noite,  e  lhe  comunicou  os  resultados  das  negociações  com  Woltz.  Ele  fizera  Hagen
  descrever  todos  os  detalhes  e  esboçara  uma  careta  de  desagrado  quando  Hagen  lhe  contou  a
  história  da  linda  menina  e  sua  mãe.  Ele  pronunciara infamita,  a  sua  maior  palavra  de
  reprovação. Fizera uma última pergunta a Hagen:
    — Esse homem tem realmente colhão?
    Hagen compreendeu exatamente o que Don Corleone quisera dizer com essa pergunta. Com
  o decorrer dos anos, ele aprendera que os valores de Don Corleone eram tão diferentes dos da
  maioria das pessoas que as suas palavras também podiam ter um significado diferente. Tinha
  Woltz caráter? Tinha ele uma vontade firme? Certamente que sim, mas não era isso o que Don
  Corleone estava perguntando. Tinha o produtor cinematográfico coragem bastante para não ser
  blefado? Tinha ele disposição para suportar o grande prejuízo financeiro que o retardamento na
  produção de seus filmes significaria, o escândalo de ser seu grande astro apontado como viciado
  em heroína? A resposta seria, outra vez, não. Mas igualmente não era isso o que Don Corleone
  queria dizer. Finalmente Hagen traduziu a pergunta de modo correto em sua mente. Tinha Jack
  Woltz colhão para arriscar tudo, para arriscar-se a perder tudo por uma questão de princípio, por
  uma questão de honra, por vingança?
    Hagen sorriu. Raramente o fazia, mas agora não podia resistir a pilheriar com Don Corleone.
    — Você está perguntando se ele é siciliano. — Don Corleone acenou com a cabeça com
  satisfação, reconhecendo a argúcia da lisonja e sua verdade. — Não — respondeu Hagen.
    Isso era tudo. Dou Corleone ponderou a questão até o dia seguinte. Na quarta-feira à tarde,
  chamou Hagen à sua casa e forneceu-lhe as instruções, as quais consumiram o resto do dia de
  trabalho de Hagen e o deixou estonteado de admiração. Não havia dúvida em seu espírito de que
  Don Corleone resolvera o problema, de que Woltz lhe telefonaria pela manhã comunicando ter
  Johnny Fontane obtido o papel de galã em seu novo filme de guerra.
    Nesse momento, o telefone tocou, mas era Amerigo Bonasera. A voz do agente funerário
  tremia  de  gratidão.  Queria  que  Hagen  transmitisse  a  Don  Corleone  os  protestos  de  sua
  imorredoura  amizade.  Ele,  Amerigo  Bonasera,  daria  a  vida  pelo  abençoado  Padrinho.  Hagen
  garantiu-lhe que comunicaria isso a Dou Corleone.
    O Daily News trazia uma notícia de meia pággina sobre Jerry Wagner e Kevin Moonan,
  encontrados desfalecidos na rua. As fotografias eram realmente impressionantes, eles pareciam
  massas de seres humanos. Milagrosamente, dizia o jornal, ainda estavam vivos, embora tivessem
  de passar alguns meses no hospital e necessitassem de cirurgia plástica. Hagen redigiu uma nota
  para informar a Clemenza que fizesse algo em favor de Paulie Gatto. Ele parecia conhecer o seu
  ofício.
    Hagen trabalhou com rapidez e eficiência durante três horas, examinando os relatórios de
  lucros da companhia imobiliária de Don Corleone, seu negócio de importação de azeite e sua
  empresa de construção. Nenhum deles es tava indo bem, mas com o término da guerra todos
  esses empreendimentos passariam a ter bons lucros. Já havia quase esquecido o problema de
  Johnny Fontane quando a sua secretária lhe informou que estavam telefonando da Califórnia.
  Teve um pequeno pressentimento quando pegou o telefone e disse:
    — Aqui fala Hagen.
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