Page 40 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Já ouvi demais — disse Woltz, levantando-se. — Bandidos não me dão ordens, eu sim é
  que dou ordens a eles. Se eu pegar o telefone, você passará a noite na cadeia. E se esse canalha
  da Máfia procurar usar de violência, ele verá que não sou um diretor de banda. Sim, já ouvi essa
  história também. Ouça, o seu amigo Sr. Corleone não sabe o que lhe pode acontecer. Mesmo que
  eu tenha de usar a minha influência na Casa Branca.
    O estúpido, estúpido filho da puta. Como diabo conseguira ele ser um pezzonovante, pensou
  Hagen. Conselheiro do Presidente, chefe supremo do maior estúdio cinematográfico do mundo.
  Decididamente, Don Corleone devia entrar no negócio de cinema. E o sujeito estava encarando
  as coisas pelo lado sentimental. Não estava recebendo a mensagem.
    — Obrigado pelo jantar e pela noite agradável — disse Hagen. — Poderia conseguir-me
  condução para o aeroporto? Penso que não passarei a noite. aqui. — Sorriu friamente para Woltz.
  — O Sr. Corleone é um homem que gosta de receber as más notícias imediatamente.
    Enquanto esperava o carro, entre as colunas profusamente iluminadas da mansão, Hagen viu
  a linda menina loura de doze anos e a mãe, que ele havia visto no escritório de Woltz de manhã,
  preparando-se  para  entrar  numa  comprida  limusine  já  estacionada  na  pista  de  saída.  Agora,
  porém, a boca esquisita da menina parecia ter-se transformado numa massa rósea, espessa. Seus
  olhos azuis estavam toldados, e quando ela desceu as escadas em direção ao carro aberto, suas
  pernas  compridas  cambaleavam  como  as  patas  de  um  potro  aleijado.  A  mãe  sustentava  a
  menina, ajudando-a a entrar no carro, sussurrando ordens no seu ouvido. A cabeça da mulher
  virou-se para dar uma olhada furtiva para Hagen, e ele viu em seus olhos um triunfo, um triunfo
  abrasador, animalesco. Depois, a mulher também entrou na limusine.
    Assim, esse era o motivo por que ele não conseguira a carona de avião de Los Angeles,
  pensou Hagen. A menina e a mãe haviam feito a viagem com o produtor cinematográfico. Isso
  dera a Woltz tempo bastante para descansar antes do jantar e para fazer o trabalho na menina. E
  Johnny queria viver nesse mundo? Boa sorte para ele, e boa sorte para Woltz.
    Paulie Gatto odiava trabalhos rápidos, especialmente quando envolviam violência. Gostava
  de  planejar  as  coisas  antecipadamente.  E  algo  como  o  dessa  noite,  embora  fosse  uma  coisa
  insignificante  poderia  tornar-se  um  negócio  sério  se  alguém  cometesse  um  erro.  Agora,
  saboreando sua cerveja, ele olhava em volta, vendo como os dois rapazes inexperientes estavam-
  se saindo com as duas prostitutazinhas no bar.
    Paulie Gatto sabia tudo o que se podia saber a respeito desses dois rapazes. Os nomes deles
  eram Jerry Wagner e Kevin Moonan. Ambos tinham cerca de 20 anos de idade, boa aparência,
  cabelo castanho, eram altos e de compleição robusta. Ambos deviam voltar para a escola, fora
  da  cidade,  em  duas  semanas,  ambos  tinham  pai  com  influência  política  e  isso,  aliado  à
  classificação escolar, tinha-os até então mantido fora da convocação militar. Ambos estavam
  também  sob sursis por atacarem a filha de Amerigo Bonasera. Eram dois canalhas imundos,
  achava Paulie Gatto. Fugindo à convocação, violando a liberdade condicional por beber num bar
  depois da meia-noite, caçando “mariposas”. Rapazes inexperientes... O próprio Paulie Gatto fora
  dispensado  provisoriamente  da  convocação  porque  o  seu  médico  forneceu  à  junta  militar
  documentos provando que o paciente, do sexo masculino, de cor branca, com a idade de 26 anos,
  solteiro, recebera tratamentos de choques elétricos para curar um distúrbio mental. Tudo falso
  evidentemente, mas Paulie Gatto sentia que fazia jus a essa isenção militar. Foi arranjada por
  Clemenza depois que Gatto hesitara a respeito de ingressar no negócio da Família.
    Foi Clemenza que lhe dissera que esse trabalho deveria ser prontamente executado, antes de
  os  dois  rapazes  voltarem  para  a  escola.  Por  que  diabo  devia  ser  feito  em  Nova  York,  Gatto
  ignorava. Clemenza dava sempre ordens extras em vez de comunicar o trabalho. Ora, se essas
  duas putinhas saíssem agora com os rapazes seria outra noite perdida.
    Ele ouviu uma das mulheres rir e dizer:
    — Você está maluco, Jerry? Não vou em carro nenhum com você. Não quero acabar no
  hospital como aquela outra pobre moça.
    A sua voz denotava uma satisfação malévola. Isso foi o bastante para Gatto. Terminou de
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