Page 41 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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beber sua cerveja e saiu para a rua escura. Perfeito. Já passava da meia-noite. Havia apenas um
  outro bar que estava com a luz acesa. O resto das casas comerciais se encontrava fechado. O
  carro-patrulha do distrito se achava “controlado” por Clemenza. Ele estaria longe dali até receber
  uma chamada pelo rádio e então viria vagarosamente.
    Paulie  encostou-se  no  Chevrolet  de  quatro  portas.  No  assento  traseiro  encontravam-se
  sentados dois homens, quase invisíveis, embora fossem muito grandes.
    — Agarrem-nos quando eles saírem — ordenou Paulie.
    Ele ainda pensava que tudo tinha sido estabelecido muito depressa. Clemenza lhe dera cópias
  fotográficas do rosto dos dois rapazes fornecidas pela polícia, além da informação sobre o lugar
  onde os rapazes iam beber toda noite para apanhar as pequenas do bar. Paulie recrutara dois dos
  homens  violentos  da  Família  e  apontara-lhes  os  dois  rapazes.  Ele  também  fornecera-lhes
  instruções. Nada de pancadas no crânio ou na nuca, não deveria haver conseqüências fatais. Fora
  disso, eles podiam ir tão longe quanto quisessem. Ele lhes havia feito apenas uma advertência.
    —  Se  esses  tipos  saírem  do  hospital  em  menos  de  um  mês,  vocês  vão  voltar  a  dirigir
  caminhões.
    Os  dois  homenzarrões  estavam  saindo  do  carro.  Ambos  eram  ex-pugilistas  que  nunca
  haviam  conseguido  qualquer  sucesso  e  tinham  sido  contratados  por  Sonny  Corleone  para
  pequenas  transações  de  agiotagem,  de  modo  que  pudessem  levar  uma  vida  decente.  Eles,
  naturalmente, se sentiam ansiosos para mostrar sua gratidão.
    Quando  Jerry  Wagner  e  Kevin  Moonan  saíram  do  bar,  estavam  completamente
  transtornados, O escárnio das mulheres do bar ferira-lhes sua vaidade de adolescentes. Paulie
  Gatto, encostado no pára-lama do carro, gritou para eles com uma gargalhada provocadora:
    — Ei, Casanovas, essas vagabundas deram o fora em vocês!
    Os dois rapazes viraram-se para ele com deleite. Paulie Gatto parecia o tipo perfeito para
  eles descarregarem a humilhação que tinham sofrido. Cara de bobo, baixo, franzino e atrevido.
  Avançaram para ele com disposição, mas logo sentiram os braços agarrados por dois homens
  que os seguraram por trás. No mesmo momento, Paulie Gatto enfiara de mansinho em sua mão
  direita  um  soco-inglês  especialmente  dotado  de  espigões  de  ferro.  Seu  ritmo  era  bom,  ele  se
  exercitava no ginásio três vezes por semana. Socou o rapaz chamado Wagner diretamente no
  nariz.  O  homem  que  segurava  Wagner  o  levantou  acima  do  chão  e  Paulie  girou  o  braço,
  atingindo-lhe plenamente a virilha. Wagner ficou bambo e o homenzarrão deixou-o cair no chão.
  Isso não levou mais de seis segundos.
    Em seguida, os dois homens voltaram a atenção para Kevin Moonan que estava tentando
  gritar. O homem que o segurava por trás fazia isso facilmente com uma enorme mão musculosa.
  A outra mão passou em torno da garganta de Moonan, a fim de evitar que ele emitisse qualquer
  som.
    Paulie Gatto saltou para dentro do carro e ligou o motor. Os dois homenzarrões continuaram
  batendo em Moonan cujo rosto era uma massa informe. Faziam isso com assustadora decisão,
  como se tivessem todo o tempo que quisessem. Não davam socos às tontas, mas em seqüências
  compassadas, lentas, que levavam todo o peso de seus corpos maciços. Cada golpe resultava num
  pedaço  de  carne  que  se  abria.  Gatto  deu  um  rápido  olhar  para  o  rosto  de  Moonan.  Estava
  irreconhecível. Os dois homens deixaram Moonan deitado na calçada e voltaram sua atenção
  para Wagner, que tentava pôr-se de pé e começava a gritar por socorro. Alguém saiu do bar e os
  dois homens tiveram que “trabalhar” mais depressa agora. Espancaram Wagner, que caiu de
  joelhos.  Um  dos  homens  pegou-lhe  o  braço  e  o  torceu,  depois  deu-lhe  pontapés  na  espinha.
  Ouviu-se um som de algo que se partia e o grito de agonia de Wagner fez com que janelas se
  abrissem em toda a extensão da rua. Os dois homens “trabalhavam” muito depressa. Um deles
  mantinha Wagner suspenso, usando as duas mãos em volta da cabeça da vítima como um torno
  O outro atingia com seu enorme punho o alvo fixo. Outras pessoas saíram do bar, mas nenhuma
  procurou intervir.
    — Vamos embora, chega! — gritou Paulie Gatto.
    Os dois homenzarrões saltaram para dentro do carro e Paulie deu a partida. Alguém poderia
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