Page 37 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Woltz estava rabiscando com uma pena enorme, de penacho vermelho. Ao ouvir falar em
dinheiro, o seu interesse logo despertou, e ele parou de rabiscar.
— Este filme está orçado em cinco milhões — disse condescendentemente.
Hagen assoviou baixinho para mostrar que estava impressionado. Depois disse de modo
bastante casual:
— Meu chefe tem alguns amigos que confiam em seu discernimento.
Pela primeira vez, Woltz parecia levar a coisa toda a sério. Analisou o cartão de Hagen.
— Nunca ouvi falar no senhor — disse ele — Conheço a maior parte dos grandes advogados
de Nova York, mas quem diabo é o senhor?
— Trabalho para uma dessas honradas empresas — respondeu Hagen secamente. —
Administro a conta dela. — Em seguida, se levantou dizendo: — Não vou tomar-lhe mais tempo.
— Estendeu a mão, e Woltz apertou-a. Deu alguns passos em direção à porta e virou-se
novamente para Woltz. — Compreendo que o senhor tem de lidar com uma porção de gente que
finge ser mais importante do que realmente é. Em meu caso, acontece o contrário. Por que o
senhor não procura investigar quem sou eu com nosso amigo comum? Se o senhor reconsiderar a
questão, telefone-me para o hotel. — Fez uma pausa e prosseguiu: — Isso pode ser um sacrilégio
para o senhor, mas meu cliente faz coisa que até o Sr. Hoover pode achar que está fora do seu
alcance.
Hagen viu os olhos do produtor cinematográfico se contraírem. Woltz finalmente recebera o
recado.
— A propósito, admiro muito os seus filmes — disse Hagen com a voz mais servil que podia
emitir. — Espero que o senhor continue a executar tão bom trabalho. O nosso país precisa dele.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Hagen recebeu um telefonema da secretária do produtor de
que um carro o apanharia dentro de uma hora para levá-lo à casa de campo do Sr. Woltz para
jantar. Ela informou que seria viagem de cerca de três horas, mas que o carro estava equipado
com um bar e alguns hors d’oeuvres. Hagen sabia que Woltz fizera a viagem em seu avião
particular e ignorava por que não havia sido convidado. A voz da secretária acrescentou
delicadamente:
— O Sr. Woltz sugeriu que o senhor levasse a sua bagagem que ele o faria conduzir ao
aeroporto pela manhã.
— Eu farei isso — respondeu Hagen Isso era outra coisa que dava o que pensar. Como Woltz
sabia que tomaria o avião da manhã de volta a Nova York? Refletiu por um momento. A
explicação mais provável era que Woltz tinha posto detetives particulares no seu encalço para
obter todas as informações possíveis. Então Woltz certamente sabia que ele representava Don
Corleone, o que queria dizer que ele sabia algo sobre Don Corleone, o que por sua vez significava
que estava pronto levar a sério toda a questão. Algo devia ser feito, afinal de contas, pensou
Hagen. E talvez Woltz fosse mesmo mais esperto do que lhe parecera naquela manhã.
A casa de campo de Jack Woltz se assemelhava a um fantástico cenário cinematográfico.
Havia uma mansão típica de fazenda, imensos passeios ajardinados, rodeados por uma pista de
terra escura para andar a cavalo, cocheiras e pasto para abrigar uma cavalhada. As sebes, os
canteiros e os gramados eram então cuidadosamente tratados como as unhas de uma estrela de
cinema.
Woltz recebeu Hagen numa varanda com paredes de vidro e ar.coridicionado. O produtor
estava informalmente vestido com uma camisa de seda azul de colarinho aberto, slacks cor de
mostarda, sandálias de couro macio. Enquadrado em todo esse conjunto luxuoso e colorido, o seu
rosto costurado e duro tinha um ar assustador. Ele ofereceu a Hagen um cálice de martíni
avantajado e serviu-se de outro que estava preparado na bandeja. Parecia mais amável do que
horas antes. Pôs o braço no ombro de Hagen e disse:
— Temos um pouco de tempo antes do jantar, vamos dar uma olhada nos meus cavalos.
Enquanto caminhavam em direção às cocheiras, falou: