Page 35 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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subornava.  E,  às  vezes,  o  êxito  de  Don  Corleone  em  se  manter  na  penumbra  contribuía  para
  desvantagem  do  negócio  da  Família,  já  que  o  seu  nome  nada  significava  para  os  círculos
  externos.
    A sua análise mostrou ter sido correta. Woltz fê-lo esperar por cerca de trinta minutos além
  da  hora  marcada.  Hagen  não  se  incomodou.  A  sala  de  recepção  era  muito  luxuosa,  e
  confortável, e no sofá cor de ameixa em frente dele estava sentada a menina mais bonita que
  Hagen já vira. A garota não tinha mais de 11 ou 12 anos de idade e achava-se vestida com apuro,
  mas com simplicidade, como uma mulher adulta. Possuía cabelos incrivelmente dourados, olhos
  grandes de cor azul-mar profundo e a boca fresca de um vermelho vivo. Estava em companhia
  de  uma  mulher,  evidentemente  sua  mãe,  que  procurava  encarar  Hagen  com  uma  fria
  arrogância  que  o  fazia  desejar  dar-lhe  um  soco  na  cara.  A  criança  é  um  anjo  e  a  mãe  é  o
  dragão, pensou Hagen, retribuindo o olhar frio da mãe.
    Finalmente, uma senhora de meia-idade, esquisitamente trajada, mas resoluta, veio buscá-lo
  para  levá-lo  através  de  uma  série  de  escritórios  até  o  apartamento-escritório  do  produtor
  cinematográfico. Hagen ficou impressionado com a beleza dos escritórios e com o pessoal que
  neles  trabalhava.  Ele  sorriu.  Todos  eram  “espertinhos”,  procurando  uma  oportunidade  no
  cinema, aceitando trabalho nos escritórios, e a maioria deles trabalharia nesses escritórios o resto
  da vida ou até que reconhecesse a derrota e voltasse para a sua cidade natal.
    Jack Woltz era um homem alto, de compleição poderosa, com uma barriga enorme quase
  escondida pela sua roupa perfeitamente talhada. Hagen conhecia sua história. Aos dez anos de
  idade, Woltz empurrara barris de cerveja vazios e carrinhos de mão na zona leste de Nova York.
  Aos 20 anos, ajudara o pai na sua oficina de roupas feitas. Aos 30, deixou Nova York e foi para o
  oeste do país, investiu no cinema “poeira” e foi um dos pioneiros cinematográficos. Aos 48, ele
  fora o mais poderoso magnata cinematográfico de Hollywood, ainda falando grosso, avidamente
  amoroso, um boboca feroz atacando os rebanhos indefesos de jovens estrelinhas. Aos 50, ele se
  transformara. Tomou aulas de  dicção,  aprendeu  a  se  vestir  com  um  criado  inglês  e  como  se
  portar  socialmente  com  um  mordomo  também  inglês.  Quando  sua  primeira  mulher  morreu,
  casou com uma atriz bonita e mundialmente famosa que não gostava de representar. Agora, aos
  60,  Woltz  colecionava  pinturas  dos  velhos  mestres,  era  membro  do  Comitê  Consultivo  do
  Presidente e tinha fundado uma instituição multimilionária em seu nome para promover a arte do
  cinema. A sua filha tinha-se casado com um lorde inglês, o seu filho com uma princesa italiana.
    Sua última paixão, como noticiavam respeitosamente todos os colunistas cinematográficos da
  América, eram suas cocheiras de cavalos de corrida, nas quais gastara dez milhões de dólares no
  último  ano.  Ele  dera  assunto  para  manchetes  ao  comprar  o  famoso  cavalo  de  corrida  inglês
  Khartoum pelo preço incrível de seiscentos mil dólares e depois anunciar que o invicto parelheiro
  seria afastado das pistas e enviado para o haras exclusivamente para reproduzir animais para as
  suas cocheiras.
    Ele  recebeu  Hagen  cortesmente,  com  o  seu  belo  rosto  bronzeado,  meticulosamente
  barbeado,  contorcendo-se  numa  careta  que  significava  um  sorriso.  Apesar  de  todo  o  dinheiro
  gasto e dos cuidados dos técnicos mais competentes, a sua idade se revelava; a carne de seu rosto
  parecia como que costurada. Havia porém vitalidade em seus movimentos e ele tinha o que Don
  Corleone também tinha, a aparência de um homem que comandava absolutamente o mundo em
  que vivia.
    Hagen  foi  diretamente  ao  assunto.  Que  vinha  como  emissário  de  um  amigo  de  Johnny
  Fontane. Que seu amigo era um homem poderoso que hipotecaria sua gratidão e morredoura
  amizade ao Sr. Woltz se este se dignasse prestar-lhe um pequeno favor, o qual consistiria em
  incluir  Johnny  Fontane  no  elenco  do  novo  filme  de  guerra  que  o  estúdio  planejava  iniciar  na
  próxima semana.
    O rosto costurado mantinha-se impassível e conservava seu decoro.
    — Que favores pode prestar-me o seu amigo? — perguntou Woltz.
    Havia então um ar de condescendência em sua voz.
    Hagen ignorou essa condescendência e explicou:
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