Page 38 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Mandei investigá-lo, Tom; você devia dizer-me que o seu chefe é Corleone. Pensei que
  você fosse simplesmente algum chantagista de terceira classe que Johnny houvesse mandado
  para blefar-me. E eu não blefo. Não que eu queira inimigos, jamais acreditei nisso. Mas vamo-
  nos divertir agora. Podemos falar de negócios depois do jantar.
    Surpreendentemente,  Woltz  demonstrou  ser  um  anfitrião  verdadeiramente  atencioso
  Explicou  seus  novos  métodos,  inovações  que  ele  esperava  que  tornariam  a  sua  coudelaria  a
  melhor  da  América.  As  cocheiras  todas  eram  à  prova  de  incêndio,  saneadas  ao  máximo  e
  guardadas  por  uma  equipe  especial  de  segurança  de  detetives  particulares.  Finalmente,  Woltz
  conduziu-o a uma cocheira que tinha uma enorme placa de bronze afixada na parede externa, na
  qual estava escrito o nome KHARTOUM.
    O cavalo que se achava dentro da cocheira, mesmo aos olhos inexperientes de Hagen, era
  um magnífico animal. O pêlo de Khartoum era negro, com exceção de uma mancha branca em
  forma de diamante em sua enorme fronte. Os grandes olhos castanhos cintilavam como maças
  douradas, o pêlo luzidio sobre o corpo musculoso parecia seda. Woltz disse com orgulho infantil:
    — O maior cavalo de corrida do mundo. Eu o comprei na Inglaterra, no ano passado, por
  seiscentos mil dólares. Aposto que nem mesmo os czares russos jamais pagaram tanto dinheiro
  por um único cavalo. Mas não vou pô-lo para correr, vou destiná-lo à reprodução. Farei construir
  a maior coudelaria que este país já teve.
    Acariciou a crina do cavalo e pronunciou suavemente:
    — Khartoum, Khartoum.
    Havia realmente afeto em sua voz, e o animal correspondeu. Woltz continuou a falar:
    — Sou um bom cavaleiro, você sabe, e a primeira vez que montei já tinha cinqüenta anos de
  idade. — Deu uma gargalhada. — Talvez uma de minhas avós na Rússia tenha sido raptada por
  um cossaco e eu tenho o sangue dele.
    Coçou a barriga de Khartoum e disse com sincera admiração:
    — Olhe a vara dele. Eu devia ter uma vara assim.
    Voltaram para a mansão, a fim de jantar, o qual foi servido por três garçons sob a direção de
  um mordomo. Os talheres e a baixela eram de prata com filetes de ouro, mas Hagen achou a
  comida medíocre. Woltz obviamente vivia sozinho, e também obviamente não era homem que
  desse importância à comida. Hagen esperou até que ambos tivessem acendido enormes Havanas
  para perguntar a Woltz:
    — Johnny vai conseguir o papel ou não?
    —  Não  posso  —  respondeu  Woltz.  —  Não  posso  pôr  Johnny  nesse  filme  mesmo  que  eu
  quisesse. Os contratos já estão todos assinados com os artistas e as câmaras começarão a rodar
  na próxima semana. Não há possibilidade alterar isso.
    —  Sr.  Woltz  —  disse  Hagen  impacientemente  —  a  grande  vantagem  de  lidar  com  um
  homem da cúpula é que tal desculpa de nada vale. Você pode fazer tudo o que quiser. — Tirou
  uma baforada do charuto e perguntou: — O senhor não acredita que o meu cliente vai cumprir as
  suas promessas?
    — Acredito que vou ter complicações trabalhistas. — respondeu Woltz, secamente. — Goff
  me telefonou a respeito disso, o filho da puta, e pela maneira pela qual ele falou, ninguém diz que
  eu pago a ele cem mil dólares todo ano por baixo da mesa. E acredito que o senhor possa afastar
  da heroína esse falso ator viril de meu estúdio. Mas isso não me importa e eu tenho condições de
  financiar meus próprios filmes. Porque eu odeio esse patife do Fontane Diga a seu chefe que esse
  é um favor que não posso fazer, mas que ele pode me procurar de novo para qualquer outra
  coisa. Qualquer outra coisa, mesmo.
    Seu  canalha  nojento,  então  por  que  diabo  você  me  trouxe  de  tão  longe  para  cá?,  pensou
  Hagen. O produtor tinha algo em mente.
    —  Acho  que  o  senhor  não  compreende  a  situação.  —  Disse  Hagen  friamente.  —  O  Sr.
  Corleone  é  padrinho  de  Johnny  Fontane.  Isso  é  uma  relação  religiosa  muito  sagrada,  muito
  íntima.
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