Page 46 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 46
cumpriu duas penas na prisão, uma na Itália, outra nos Estados Unidos, e é conhecido das
autoridades como contrabandista de narcóticos. Isso podia ser uma vantagem para nós. Significa
que ele jamais conseguirá imunidades para depor, porque é considerado o chefão e,
naturalmente, devido à sua ficha. Outrossim, tem mulher e três filhos americanos, e é um bom
chefe de família. Faz qualquer acordo desde que saiba que o negócio será bem dirigido para
render um bom dinheiro.
Don Corleone tirou uma baforada do charuto e perguntou:
— Santino, que é que você acha?
Hagen sabia o que Sonny iria responder. Sonny estava aborrecido por se achar sob o domínio
de Don Corleone. Ele queria um grande empreendi mento por sua própria conta. Algo como isso
seria ótimo.
Sonny tomou um longo trago de uísque
— Muito dinheiro se pode fazer com esse pó branco — respondeu ele, Mas pode ser
perigoso. Algumas pessoas correm o risco de acabar na cadeia por uns vinte anos. Quero dizer
que se ficarmos fora das operações propriamente ditas, isto é, se apenas dermos proteção e
financiamento, pode ser uma boa idéia.
Hagen olhou para Sonny apoiando-o. Ele jogara bem as cartas. Limitara-se ao óbvio, que
era o que melhor podia fazer.
Don Corleone tirou uma baforada do seu charuto,
— E você, Tom, que é que acha?
Hagen preparou-se para ser completamente honesto. Já havia chegado à conclusão de que
Don Corleone recusaria a proposta de Sollozzo. Mas, o que era pior, Hagen estava convencido de
que em uma das raras vezes em sua vida Don Corleone não havia pensado inteiramente no
assunto. Não estava olhando suficientemente para a frente.
— Vamos, Tom — exclamou Don Corleone encorajadoramente. — Nem mesmo um
consigliori siciliano concorda sempre com o chefe.
Todos riram.
— Penso que você devia dizer sim — observou Hagen. — Você conhece todos os motivos
evidentes. Porém o mais importante de todos é este. Há mais dinheiro em potencial em
narcóticos do que em qualquer outro negócio Se não entrarmos nele, outras pessoas entrarão,
talvez a Família Tattaglia. Com a receita que eles obtêm podem acumular cada vez mais poder
policial e político. A Família deles ficará mais forte do que a nossa. Finalmente virão em cima de
nós para tomar o que nós temos. É tal como acontece entre os países. Se eles se armam, temos
de nos armar. Se eles se tornam economicamente mais fortes, tornam-se uma ameaça para nós.
No momento, possuímos o jogo e os sindicatos, e são precisamente agora as melhores coisas
para se ter. Mas penso que os narcóticos são o próximo passo. Acho que temos de participar disso
ou pomos em risco tudo que possuímos. Não agora, mas talvez daqui a dez anos.
Don Corleone parecia bastante impressionado. Tirou uma baforada de seu charuto e
murmurou:
— Isso é a coisa mais importante, sem dúvida. — Deu um suspiro e pôs-se de pé: — A que
horas temos de encontrar esse turco amanhã?
Hagen respondeu esperançosamente:
— Ele estará aqui às dez horas da manhã.
Talvez Don Corleone resolvesse aceitar o negócio.
— Quero vocês dois aqui comigo — preveniu Don Corleone. — Levantou-se, espreguiçando-
se, e pegou o filho pelo braço. .— Santino, durma bem esta noite, você parece o próprio diabo.
Cuide de você, pois não será sempre jovem.
Sonny, animado por esse interesse paterno, fez a pergunta que Hagen não se atrevera a
fazer.
— Pai, qual vai ser a sua resposta?