Page 47 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Don Corleone sorriu.
    — Como posso saber sem antes ouvir as percentagens e outros detalhes? Além disso, preciso
  de  tempo  para  pensar  no  conselho  que  me  deram  aqui  esta  noite.  Afinal  de  contas,  não  sou
  homem  que  faz  as  coisas  precipitada  mente.  —  Quando  ia  saindo,  perguntou  casualmente  a
  Hagen: — Você tem em suas notas que o turco vivia da prostituição antes da guerra? Tal como a
  Família Tattaglia faz agora. Anote isso antes que você esqueça.
    Havia  um  tom  de  escárnio  na  voz  de  Don  Corleone,  e  Hagen  ficou  vermelho.  Ele
  deliberadamente não mencionara isso, legitimamente por assim dizer, pois realmente não tinha
  qualquer  relação,  mas  receara  que  pudesse  prejudicar  a  decisão  de  Don  Corleone.  Ele  era
  notoriamente rigoroso em questões de sexo.
    Virgil  Sollozzo,  o  turco,  era  um  homem  de  constituição  robusta,  tez  escura,  que  podia  ser
  tomado por um verdadeiro turco. Tinha um nariz que lembrava uma cimitarra e olhos pretos
  cruéis. Possuía também uma dignidade impressionante.
    Sonny Corleone recebeu-o na porta e o introduziu no escritório onde Hagen e Don Corleone
  esperavam. Hagen pensou que nunca vira um homem de aspecto mais perigoso, com exceção
  de Luca Brasi.
    Houve troca de apertos de mão corteses entre eles. Se Don Corleone me perguntar se esse
  homem  tem  colhão,  eu  responderei  que  sim,  pensou  Hagen.  Nunca  vira  tamanha  força  num
  homem, nem mesmo em Don Corleone. De fato, Don Corleone parecia sentir-se inferiorizado.
  Ele  foi  um  pouco  demasiadamente  simples,  um  pouco  demasiadamente  agradável  em  sua
  saudação.
    Sollozzo  entrou  no  assunto  imediatamente,  O  negócio  eram  narcóticos.  Tudo  estava
  estabelecido. Os campos de papoula na Turquia haviam-lhe garantido certas quantidades todo
  ano. Ele tinha uma fábrica protegida na França para converter a papoula em morfina e outra
  fábrica completamente garantida na Sicília para transformá-la em heroína. O contrabando para
  entrar nos dois países era tão seguro quanto tais coisas podiam ser. A entrada nos Estados Unidos
  envolvia cerca de 5% de prejuízo, pois o próprio FBI era incorruptível, como ambos sabiam. Mas
  os lucros seriam enormes, o risco não existia.
    —  Então  por  que  você  veio  a  mim?  —  perguntou  Don  Corleone  delicadamente.  Por  que
  passei a merecer essa generosidade de sua parte?
    O rosto escuro de Sollozzo permaneceu impassível.
    — Preciso de dois milhões de dólares em dinheiro — respondeu. — Igual mente importante,
  preciso de um homem que tenha amigos poderosos nos lugares-chave. Alguns dos meus correios
  serão apanhados no decorrer dos anos. Isso é inevitável. Todos eles terão fichas limpas, isso eu
  prometo. Assim, será lógico que os juízes dêem penas leves. Preciso de um amigo que possa
  garantir que quando meu pessoal estiver em dificuldade não passe mais de um ano ou dois na
  cadeia.  Assim,  ele  não  falará.  Mas  se  pegar  dez  ou  vinte  anos,  quem  sabe?  Nesse  mundo  há
  muitos indivíduos fracos. Eles podem falar, e pôr em perigo gente mais importante. A proteção
  legal é uma coisa indispensável. Ouvi dizer, Don Corleone, que o senhor tem tantos juízes em sua
  gaveta como um engraxate tem moedas de níquel.
    Don Corleone não tomou conhecimento dessa lisonja.
    — Que percentagem oferece à minha Família? — perguntou.
    Os olhos de Sollozzo brilharam.
    —  Cinqüenta  por  cento,  —  Fez  uma  pausa  e  depois  disse  numa  voz  que  era  quase  um
  carinho: — No primeiro ano, a sua parcela de lucro seria de três ou quatro milhões de dólares.
  Depois subiria.
    — E qual é a percentagem da Família Tattaglia? — perguntou Don Corleone.
    Pela primeira vez Sollozzo pareceu ficar nervoso.
    — Ela receberá uma parte da minha parcela. Preciso de alguma ajuda nas operações.
    —  Assim  —  falou  Don  Corleone  —  eu  recebo  50%  simplesmente  pelo  financiamento  e
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