Page 52 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 52
— Sonny, sou eu — disse Michael.
Ele pôde ouvir o alívio na voz de Sonny.
— Jesus, menino, você nos deixou preocupados. Onde diabo está você? Mandei gente a essa
sua cidade caipira para ver o que aconteceu.
— Como está o velho? — perguntou Michael. — Qual é a gravidade do ferimento?
— Muito sério. Eles o atingiram com cinco tiros. Mas o velho é duro. — A voz de Sonny
denotava orgulho. — Os médicos disseram que escapará. Ouça, menino, estou ocupado, não
posso falar, onde está você?
— Nova York — respondeu Michael. —Tom não lhe falou que eu ia descer?
Sonny baixou um pouco a voz.
— Raptaram Tom. Essa a razão por que eu estava preocupado com você. A mulher dele está
aqui. Ela não sabe, nem tampouco os tiras. Não quero que eles saibam. Os bandidos que fizeram
isso devem estar malucos. Quero que você saia daqui imediatamente e se mantenha calado.
Entendido?
— Entendido — respondeu Mike. — Você sabe quem fez isso?
— Certamente — retrucou Sonny. — Logo que Luca Brasi se apresentar, eles estarão
mortos. Ainda somos senhores da situação.
— Sairei dentro de uma hora — disse Mike. — Num táxi.
Ele desligou. Os jornais já estavam na rua há mais de três horas. Deviam ter dado notícia
pelo rádio. Era quase impossível que Luca não tivesse ouvido. Preocupado, Michael ponderava
sobre a questão. Onde estava Luca Brasi? Era a mesma pergunta que Hagen fazia nesse
momento. Era a mesma pergunta que intrigava Sonny Corleone lá em Long Beach.
A um quarto para as cinco horas dessa tarde, Don Corleone terminara de examinar os
documentos que o chefe do escritório de sua companhia de azeite preparara para ele. Pôs o
paletó e deu uma pancadinha na cabeça de seu filho Freddie para fazê-lo tirar os olhos do
vespertino que estava lendo absortamente.
— Diga a Gatto para tirar o carro do parque de estacionamento — falou. — Estarei pronto
para ir para casa em poucos minutos.
— Eu mesmo vou ter de apanhá-lo — resmungou Freddie. —Paulie telefonou esta manhã
dizendo que está doente. Pegou um resfriado novamente.
Don Corleone olhou pensativo por um momento. .
— Esta é a terceira vez este mês. Penso que talvez é melhor você arranjar um sujeito mais
sadio para esse serviço. Fale com Tom.
— Paulie é um bom menino — protestou Fred. — Se ele diz que está doente, está doente. Eu
não me importo em apanhar o carro.
Fred saiu do escritório. Don Corleone olhou pela janela quando o filho cruzava a Nona
Avenida para o parque de estacionamento. Resolveu telefonar para o escritório de Hagen, porém
não obteve resposta. Ligou para a casa de Long Beacli, mas igualmente ninguém atendeu.
Irritado, olhou pela janela. Seu carro estava estacionado no meio-fio em frente ao seu edifício.
Freddie estava encostado no pára-lama, com os braços cruzados, olhando os transeuntes
atarefados com as compras de Natal. Don Corleone pôs o paletó. O chefe do escritório ajudou-o
a vestir o sobretudo. O velho resmungou os seus agradecimentos e saiu, começando a descer os
dois lanços de escada.
Lá fora na rua, a luz do começo de inverno estava falhando. Freddie encostou-se
casualmente no pára-lama do pesado Buick. Quando viu o pai sair do edifício, desceu a rua para
o lado do assento do motorista e entrou no carro. Don Corleone estava prestes a entrar no veículo
pelo lado do calçada, quando hesitou e depois voltou até a comprida banca de frutas situada perto
da esquina. Isso já se tornara um hábito ultimamente, ele gostava das frutas grandes, fora de
estação, os pêssegos e laranjas amarelas, que luziam em suas caixas verdes. O proprietário
moveu-se rapidamente para atendê-lo. Don Corleone não pegava nas frutas. Apenas apontava. O