Page 50 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Um carro estacionado no meio-fio, subitamente, teve a sua porta aberta. Sollozzo falou com
  insistência:
    — Entre, quero falar com você.
    Hagen puxou o braço livrando-se de Sollozzo. Não estava sobressaltado, apenas irritado.
    — Não tenho tempo — retrucou.
    Nesse momento, dois homens vieram por trás dele. Hagen sentiu uma fraqueza súbita nas
  pernas. Sollozzo disse brandamente:
    — Entre no carro. Se eu quisesse matá-lo, você estaria morto agora. Confie em mim.
    Sem qualquer sombra de confiança, Hagen embarcou no veículo.
    Michael Corleone mentira para Hagen. Ele já estava em Nova York, e telefonara de um
  quarto do Hotel Pensilvânia a menos de dez quarteirões de distância. Quando ele desligou, Kay
  Adams jogou fora o seu cigarro e disse:
    — Mike, que mentiroso você é.
    Michael sentou.se ao lado dela na cama.
    —  Tudo  por  você,  querida;  se  eu  dissesse  à  minha  família  que  nós  estávamos  na  cidade
  teríamos de ir diretamente para lá. Então, não poderíamos sair para jantar, não poderíamos ir ao
  teatro e não poderíamos dormir juntos esta noite. Não na casa do meu pai, enquanto não somos
  casados.
    Ele passou os braços em volta da moça e a beijou delicadamente nos lábios. A sua boca era
  doce, e ele delicadamente fê-la deitar-se na cama. Kay fechou os olhos, esperando que Michael
  lhe  fizesse  amor,  e  ele  sentiu  uma  felicidade  enorme.  Passara  os  anos  da  guerra  lutando  no
  Pacífico, e naquelas ilhas malditas havia sonhado com uma garota como Kay Adams. Com uma
  beleza igual à dela. Um corpo frágil e bonito, branco como leite e eletrizado pela paixão. Ela
  abriu os olhos e depois puxou a cabeça dele para beijá-la. Amaram-se até chegar a hora do
  jantar e de ir para o teatro.
    Depois  do  jantar,  passaram  pelos  grandes  magazines  profusamente  iluminados,  cheios  de
  fregueses que faziam as suas compras, e Michael perguntou:
    — Que é que vou comprar para você como presente de Natal?
    Ela achegou-se bem a ele.
    — Quero apenas você — respondeu. — Você acha que o seu pai vai concordar que se case
  comigo?
    Michael retrucou delicadamente:
    —  A  questão  não  é  realmente  essa.  Será  que  os  seus  pais  vão  concordar  que  você  case
  comigo?
    Kay deu de ombros.
    — Não me importo com isso — respondeu.
    — Até pensei em mudar o nome, legalmente — disse Michael — mas se algo acontecesse,
  isso  realmente  não  adiantaria  nada.  Você  tem  certeza  de  que  quer  entrar  para  a  família
  Corleone? — perguntou meio brincalhão.
    — Sim — respondeu ela séria.
    Eles se apertaram mutuamente. Haviam resolvido casar-se durante a semana do Natal, uma
  cerimônia civil tranqüila na pretoria com apenas dois amigos como testemunhas. Mas Michael
  insistira em que devia comunicar ao pai. Explicara que o velho não se oporia de maneira alguma
  desde que a coisa não fosse feita em segredo. Kay tinha suas dúvidas. Dissera que só poderia
  comunicar a seus pais depois do casamento.
    — Certamente eles pensarão que estou grávida — disse ela.
    Michael sorriu mostrando os dentes.
    — Meus pais pensarão a mesma coisa — acrescentou ele.
    O que nenhum deles mencionou foi o fato de que Michael teria de cortar seus laços íntimos
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