Page 54 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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— Você reconhece minha voz?
    — Sim — respondeu Sonny.
    Ele estava despertando de uma soneca, tendo sido chamado ao telefone por sua mulher.
    — Alguém baleou seu pai na porta do edifício de seu escritório. Há cerca de quinze minutos.
  Ele  está  vivo,  mas  gravemente  ferido.  Levaram-no  para  o  Hospital  Francês.  Conduziram  seu
  irmão  Freddie  para  o  distrito  de  Chelsea.  É  melhor  conseguir  um  médico  para  ele  quando  o
  soltarem. Vou agora para o hospital a fim de ajudar a interrogar o seu velho, se ele puder falar.
  Manterei você informado a respeito do assunto — disse Philips, sem preâmbulo.
    Do  outro  lado  da  mesa,  a  mulher  de  Sonny,  Sandra,  percebeu  que  o  rosto  do  marido  se
  tornara vermelho, com o sangue afluindo precipitadamente. Seus olhos se tornaram vidrados.
    — Que é que há? — perguntou ela.
    Ele acenou-lhe impacientemente para que se calasse, virou o corpo, dando as costas para
  ela, e perguntou no telefone:
    — Você tem certeza de que ele está vivo?
    — Sim, tenho certeza — respondeu o detetive. — Ele perdeu muito sangue, mas acho que
  talvez não esteja tão ruim como parece.
    — Obrigado — disse Sonny. — Esteja em casa amanhã de manhã às oito horas em ponto.
  Você merece uma boa recompensa.
    Sonny pôs o fone no gancho. Fez um esforço para manter-se calmo. Sabia que a sua maior
  fraqueza era a ira, e aquele era um momento em que a ira podia ser fatal. A primeira coisa a
  fazer era chamar Tom Hagen. Mas antes que pudesse pegar no telefone, este tocou. A chamada
  era do bookmaker autorizado pela Família a funcionar na zona do escritório de Don Corleone. O
  bookmaker  chamou  para  informá-lo  de  que  Don  Corleone  tinha  sido  assassinado,  fatalmente
  baleado na rua. Após algumas gestões para se assegurar de que o informante do bookmaker não
  estivera perto do corpo, Sonny rejeitou a informação como incorreta. A informação de Phillips
  seria mais exata. O telefone tocou quase imediatamente pela terceira vez. Era um repórter do
  Daily News. Assim que ele se identificou, Sonny Corleone desligou.
    Em seguida discou para a casa de Hagen e perguntou à mulher dele:
    — Tom já veio para casa?
    — Não — respondeu ela, acrescentando que ele devia demorar uns vinte minutos, mas que
  ela o esperava em casa para a ceia.
    — Diga-lhe que telefone para mim — falou Sonny.
    Ele procurou considerar os fatos. Tentou imaginar como o pai reagiria numa situação como
  essa.  Sabia  imediatamente  que  era  um  ataque  de  Sollozzo,  mas  Sollozzo  nunca  se  atreveria  a
  eliminar um chefe de tão alto gabarito como Don Corleone, a não ser que fosse apoiado por
  outras pessoas poderosas. O telefone, tocando pela quarta vez, interrompeu-lhe os pensamentos.
  A voz do outro lado era muito branda, muito gentil:
    — Santino Corleone?
    — Sim — respondeu Sonny.
    — Temos em nosso poder Tom Hagen — informou a voz. — Dentro de três horas, ele será
  solto com a nossa proposta. Não faça nada precipitadamente até ouvir o que ele tem a dizer.
  Você só pode causar um bocado de complicação. O que está feito está feito. Todo mundo deve
  ser sensato agora. Não perca as estribeiras.
    A  voz  era  ligeiramente  escarnecedora.  Sonny  não  tinha  certeza,  mas  parecia  ser  a  de
  Sollozzo. Respondeu numa voz fingidamente abafada e deprimida:
    — Vou esperar.
    Ouviu desligarem do outro lado o receptor. Olhou para seu pesado relógio-pulseira de ouro, e
  observou a hora exata do telefonema, anotando-a na toalha da mesa.
    Sentou-se na mesa da cozinha, franzindo as sobrancelhas. A mulher perguntou:
    — Sonny, que é que há?
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