Page 71 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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o trabalho estiver terminado, quero que você leve a sua mulher e filhos para umas férias na
Flórida. Use o seu próprio dinheiro agora e eu o reembolsarei depois. Descanse, apanhe bastante
sol. Hospede-se no hotel da Família em Miami para que eu saiba onde poderei encontrá-lo
quando precisar.
A mulher de Clemenza bateu na porta do cubículo para dizer-lhes que Paulie Gatto havia
chegado. Ele estava estacionado na porta da garagem. Clemenza encaminhou-se para a garagem
e Lampone o seguiu. Quando Clemenza entrou no assento dianteiro com Gatto, apenas
murmurou um cumprimento, com um aspecto encolerizado no rosto. Olhou para o relógio de
pulso como que esperando verificar que Gatto estivesse atrasado.
O guarda-costas olhava-o atentamente, procurando uma pista. Tomou um pequeno susto
quando Lampone entrou no assento traseiro bem atrás dele e disse:
— Rocco, sente do outro lado. Um sujeito grande como você atrapalha o meu espelho
retrovisor.
Lampone mudou de lugar obedientemente de modo que passou a sentar atrás de Clemenza,
como se tal pedido fosse a coisa mais natural do mundo.
Clemenza falou asperamente:
— Maldito Sonny, começou a se apavorar. Já está pensando em “dormir em colchões”.
Temos de achar um apartamento na zona Oeste. Paulie, você e Rocco têm de levar gente para lá
e supri-lo até ser dada a ordem para resto dos soldados usá-lo. Você conhece um bom lugar?
Como já esperava, os olhos de Gatto se tomaram gananciosamente interessados. Paulie
engoliu a isca e, em virtude de estar pensando em quanto valeria a informação para Sollozzo,
esqueceu de pensar sobre se se achava em perigo. Igualmente, Lampone desempenhava o seu
papel com perfeição, olhando para fora da janela de maneira desinteressada, tranqüila.
Clemenza congratulou-se com sua escolha.
Gatto deu de ombros.
— Eu devia ter pensado nisso — comentou.
Clemenza resmungou:
— Vá dirigindo enquanto pensa, quero chegar a Nova York hoje.
Paulie era um bom motorista e o tráfego para a cidade estava fraco nessa hora da tarde,
assim a escuridão do início de inverno apenas começara a cair quando eles chegaram. Não
houve conversa durante a viagem. Clemenza mandou Paulie levar o carro até o bairro
Washington Heights. Examinou alguns edifícios de apartamentos e disse-lhe para estacionar perto
da Arthur Avenue e esperar. Também deixou Rocco Lampone no carro. Entrou no Vera Mario
Restaurant e fez uma refeição ligeira de vitela e salada, acenando seu cumprimento para alguns
conhecidos. Depois de passada uma hora, andou os vários quarteirões até onde o carro estava
estacionado e entrou nele. Gatto e Lampone ainda estavam esperando.
— Merda — exclamou Clemenza — eles querem a gente de volta em Long Beach. Têm
outro serviço para nós agora. Sonny disse que a gente pode deixar este para mais tarde. Rocco,
você mora na cidade, quer descer em algum lugar?
Rocco respondeu calmamente:
— Deixei meu carro lá na sua casa e minha velha precisa dele de manhã cedo.
— Está certo — retrucou Clemenza. — Então você vai ter de voltar com a gente.
Novamente na viagem de volta para Long Beach nada se conversou, Na reta da estrada que
vai dar na cidade, Clemenza disse de repente:
— Paulie, encoste o carro aí, preciso dar uma mijada.
Por trabalharem juntos há tanto tempo, Gatto sabia que o gordo caporegime tinha uma
bexiga fraca. Havia feito várias vezes esse pedido. Gatto desviou o carro para fora da estrada
conduzindo-o para a terra mole que levava até o pântano. Clemenza saltou do carro e deu alguns
passos em direção ao mato. Ele realmente urinou. Depois, quando abriu a porta para entrar
novamente no carro, deu uma rápida olhada para a frente e para trás da rodovia. Não havia
luzes, a estrada estava completamente escura.