Page 73 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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CAPÍTULO 7
    NA NOITE ANTERIOR ao atentado contra Don Corleone, o seu servidor mais forte, mais
  leal e mais temido preparava-se para encontrar-se com o inimigo. Luca Brasi entrara em contato
  com as forças de Sollozzo vários meses antes. Ele fizera isso freqüentando os cabarés controlados
  pela Família Tattaglia e deitando com uma de suas prostitutas de alto gabarito. Na cama com
  essa  garota,  reclamou  como  era  sacrificado  na  Família  Corleone,  como  o  seu  valor  não  era
  reconhecido.  Depois  de  uma  semana  de  amor  com  a  pequena,  Luca  foi  abordado  por  Bruno
  Tattaglia, gerente do cabaré. Bruno era o filho mais moço e, aparentemente, não tinha qualquer
  ligação com o negócio de prostituição da Família. Mas o seu famoso cabaré com a sua equipe de
  lindas  dançarinas  altas  e  esguias  era  a  escola  de  aperfeiçoamento  para  muitas  prostitutas  da
  cidade.
    A  primeira  reunião  transcorreu  em  clima  de  honestidade,  Tattaglia  oferecendo-lhe  um
  emprego  para  trabalhar  no  negócio  da  família  como  guarda  costas.  O  namoro  continuou  por
  quase um mês. Luca desempenhava o seu papel de homem apaixonado por uma linda garota,
  enquanto  Bruno  Tattaglia  fingia  ser  um  homem  de  negócios  procurando  atrair  um  elemento
  eficiente de um bando rival. Numa dessas reuniões, Luca fingiu hesitar, depois disse:
    — Mas uma coisa deve ficar compreendida. Nunca agirei contra o Padrinho. Don Corleone
  é um homem que eu respeito. Compreendo que ele deve pôr os filhos antes de mim no negócio
  da Família.
    Bruno  Tattaglia  era  um  indivíduo  da  nova  geração,  com  um  ódio  mal  oculto  pelos  tipos
  antiquados  como  Luca  Brasi,  Don  Corleone  e  até  o  seu  próprio  pai.  Era  apenas  um  pouco
  respeitoso. Então respondeu:
    —  Meu  pai  não  esperaria  que  você  fizesse  alguma  coisa  contra  os  Corleone.  Por  que
  esperaria  ele?  Todo  mundo  se  dá  bem  agora  com  qualquer  pessoa,  não  é  como  nos  velhos
  tempos. Trata-se apenas de que você está procurando um novo emprego, posso falar isso com
  meu pai. Há sempre necessidade de um homem como você no nosso negócio. É um ramo difícil
  e precisa de homens duros para que possa funcionar suavemente. Avise-me,se você se decidir.
    Luca deu de ombros.
    — Não é tão ruim assim o lugar onde estou agora.
    E deixaram a conversa nesse pé.
    A idéia geral era levar os Tattaglia a acreditar que ele, Luca, sabia a respeito da operação
  lucrativa  dos  narcóticos  e  que  queria  um  pedaço  do  bolo  como  franco-atirador.  Desse  modo,
  podia  ouvir  algo  sobre  os  planos  de  Sollozzo,  se  o  turco  tivesse  algum,  ou  se  este  estava  se
  preparando para dar um golpe em Don Corleone. Depois de esperar dois meses sem que nada
  acontecesse, Luca informou a Don Corleone que Sollozzo evidentemente se conformara com a
  derrota.  Don  Corleone  tinha-lhe  dito  que  continuasse  tentando  simplesmente  como  uma  coisa
  secundária, que não se empenhasse muito naquilo.
    Luca  entrara  no  cabaré  na  noite  anterior  ao  atentado  contra  Don  Corleone.  Quase
  imediatamente, Bruno Tattaglia viera a sua mesa e sentara-se.
    — Tenho um amigo que quer falar com você — declarou ele.
    — Traga-o aqui — tornou Luca. — Falarei com qualquer amigo seu.
    — Não — retrucou Bruno. Ele quer ver você em particular.
    — Quem é ele? — perguntou Luca.
    — Apenas um amigo meu — respondeu Bruno Tattaglia. — Ele quer apresentar-lhe uma
  proposta. Você poderá encontrá-lo mais tarde, ainda esta noite?
    — Certamente — retrucou Luca. — A que horas e onde?
    Tattaglia respondeu suavemente.
    — O cabaré fecha às quatro da manhã. Por que vocês não se encontram aqui, enquanto os
  garçons estão fazendo a limpeza?
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