Page 8 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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poder,  a  sabedoria  de  que  ele  necessitava  e  um  amor  no  qual  ele  ainda  acreditava.  O  seu
  Padrinho Corleone.
    O padeiro Nazorine, rechonchudo e encrostado como seus grandes pães italianos, ainda sujo
  de farinha de trigo, intimidava sua mulher, sua filha casadoira, Katherine, e o seu ajudante de
  padeiro,  Enzo.  Enzo  tinha  conseguido  autorização  para  usar  o  seu  uniforme  de  prisioneiro  de
  guerra com a braçadeira de letras verdes e estava aterrorizado com a idéia de que essa cena
  poderia  fazê-lo  atrasar-se  na  apresentação  na  Governor’s  Island.  Sendo  um  dos  inúmeros
  milhares de prisioneiros do exército italiano libertado condicionalmente todo dia para trabalhar na
  economia  americana,  ele  vivia  sob  o  medo  constante de que  essa  liberdade  condicional  fosse
  revogada. Assim, a pequena comédia, que estava sendo representada agora, era, para ele, uma
  coisa séria.
    — Você desonrou minha família? Você engravidou a minha filha, para lembrar-se de que
  agora a guerra terminou e você sabe que a América vai expulsá-lo, sua besta, de volta para a sua
  aldeia cheia de merda na Sicília? — perguntou Nazorine ameaçadoramente.
    Enzo, um rapaz baixinho, de compleição robusta, pôs a mão no coração e disse quase em
  lágrimas, embora sagazmente:
    — Padrone, juro pela Virgem Santa que nunca abusei da sua bondade. Amo a sua filha com
  todo  o  respeito.  Peço  a  mão  dela  com  todo  o  respeito.  Sei  que  não  tenho  direito,  mas  se  me
  mandarem  de  novo  para  a  Itália,  nunca  mais  poderei  voltar  para  a  América.  Nunca  poderei
  casar com Katherine.
    A mulher de Nazorine, Filomena, falou de modo decisivo:
    — Pare com toda essa besteira — disse, ela ao seu rechonchudo marido.
    —  Você  sabe  o  que  deve  fazer.  Mantenha  Enzo  aqui,  mande-o  esconder-se  com  nossos
  primos, em Long Island.
    Katherine  estava  chorando.  Ela  já  estava  roliça,  feiosa  e  criando  um  ralo  bigode.  Jamais
  conseguiria um marido bonito como Enzo, jamais acharia outro homem que tocasse as partes
  pudendas do seu corpo com amor tão respeitoso.
    — Vou viver na Itália — gritou ela para o pai. — Fugirei, se você não mantiver Enzo aqui.
    Nazorine olhou para ela com astúcia. Era uma “mulher fogosa” essa sua filha. Ele a tinha
  visto esfregar as traseiras protuberantes em Enzo, quando o ajudante de padeiro passou de frente,
  apertadamente, por trás dela para encher os cestos do balcão de pães quentes tirados do forno, O
  pão  quente  do  patife  entraria  no  forno dela,  Nazorine  pensou  lascivamente,  se  medidas
  apropriadas  não  fossem  tomadas.  Enzo  devia  permanecer  na  América  e  tornar-se  cidadão
  americano.  E  só  havia  um  homem  que  poderia  resolver  tal  problema.  Era  o  Padrinho.  Don
  Corleone.
    Todas  essas  pessoas  e  muitas  outras  receberam  convites  impressos  para  o  casamento  da
  Senhorita Constanzia Corleone, a ser celebrado no último sábado de agosto de 1945. O pai da
  noiva,  Don  Vito  Corleone,  nunca  esquecia  os  velhos  amigos  e  vizinhos,  embora  ele  próprio
  vivesse  agora  numa  casa  enorme  em  Long  Island.  A  recepção  se  realizaria  nessa  casa  e  os
  festejos se prolongariam por todo o dia. Não havia dúvida de que seria uma ocasião de grande
  importância. A guerra com os japoneses então terminara e assim não haveria o receio incômodo
  de que a lembrança dos filhos lutando no exército ofuscasse esses festejos. Um casamento era
  justamente do que as pessoas precisavam para mostrar sua alegria.
    Assim, nessa manhã de sábado, os amigos de Don Corleone afluíram de Nova York para
  prestar-lhe  sua  homenagem.  Traziam  envelopes  de  cor  creme  recheados  de  dinheiro  como
  presente de casamento; nada de cheques. Dentro de cada envelope havia um cartão identificando
  o doador e a medida de seu respeito pelo Padrinho. Respeito esse verdadeiramente conquistado.
    Don  Vito  Corleone  era  um  homem  a  quem  todo  mundo  recorria  em  busca  de  auxilio,  e
  quem o fizesse jamais ficava desapontado. Ele não fazia promessas ocas, nem apresentava a
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