Page 12 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Sonny Corleone e assim conheceu a irmã. Don Corleone, naturalmente, enviou amigos de
confiança a Nevada e estes apuraram que a complicação policial de Carlo foi uma indiscrição
juvenil com uma arma, não muito séria, que podia ser facilmente apagada dos livros para deixar
o rapaz com uma ficha limpa. Voltaram também com informações detalhadas Sobre o jogo
legal em Nevada, o que interessou grandemente a Don Vito e sobre o que ele vinha matutando
desde então. Era parte da grandeza de Don Vito que ele tirasse lucro de tudo.
Confie Corleone não chegava a ser uma garota bonita: era magra e nervosa e certamente se
tornaria de mau gênio com o correr dos anos. Porém hoje, transformada pelo seu vestido branco
de noiva e ansiosa virgindade, ela estava tão radiante que parecia bonita. Por baixo da mesa, sua
mão repousava na coxa musculosa do noivo, enquanto sua boca de arco de cupido espichava-se
para dar no noivo um beijo imaginário.
Connie o achava incrivelmente bonito. Carlo trabalhara ao ar livre do deserto quando muito
jovem e realizara trabalho pesado. Seus braços eram musculosos e seus ombros se destacavam
embaixo do smoking. Ele se comprazia sob o olhar apaixonado da noiva e enchia o copo dela de
vinho. Era extremamente gentil para ela, como se eles fossem dois atores representando uma
peça. Mas seus olhos se achavam voltados para a enorme bolsa de seda que a noiva trazia
pendurada no ombro direito e que estava agora abarrotada de envelopes de dinheiro. Quanto
conteria a bolsa? Dez mil? Vinte mil? Carlo Rizzi ria. Isso era apenas o começo. Afinal de contas,
ele havia casado com uma moça da família real. E os membros dessa família deviam cuidar
dele.
Na multidão de convidados um rapaz esperto, de cabeça lisa, estudava também a bolsa de
seda. Por simples hábito, Paulie Gatto imaginava precisamente como poderia apoderar-se dessa
carteira recheada. A idéia o divertia. Mas ele sabia que isso era um sonho vago, inocente, tal
como as crianças sonham em atacar tanques de guerra com espingardas de brinquedo. Ele
observava seu chefe Peter Clemenza, gordo e de meia-idade, rodopiando com moças
adolescentes em torno da pista de dança de madeira ao som de uma rústica e vigorosa
tarantella. Clemenza, imensamente alto, imensamente grande, dançava com tamanha
habilidade e desembaraço, sua barriga dura lascivamente comprimindo os seios das delicadas
jovens, que todos os convidados o aplaudiam. As mulheres mais velhas agarravam-lhe o braço
para ser o seu próximo par. Os homens mais novos respeitosamente esvaziavam a pista de dança
e batiam palmas ao ritmo do som selvagem do bandolim. Quando Clemenza finalmente caiu
prostrado numa cadeira, Paulie Gatto trouxe-lhe um copo de vinho tinto gelado e enxugou-lhe a
testa jupiteriana suada com o seu lenço de seda. Clemenza ofegava como uma baleia à medida
que engolia o vinho. Mas, em vez de agradecer a Paulie, ele disse rispidamente:
— Não procure ser juiz de dança, faça o que deve. Dê uma volta pela redondeza e veja se
tudo está correndo bem.
Paulie esgueirou-se na multidão.
A orquestra fez uma pausa para descanso. Um rapaz chamado Nino Valenti pegou de um
bandolim abandonado, pôs o pé esquerdo em cima de uma cadeira e começou a cantar uma
indecente canção siciliana de amor. O rosto de Nino Valenti era bonito, embora inchado pelas
constantes bebedeiras, e já se mostrava um pouco embriagado. Ele revirava os olhos à proporção
que a sua língua acariciava a letra obscena da canção. As mulheres davam gritinhos de alegria e
os homens berravam a última palavra de cada estrofe com o cantor
Don Corleone, notoriamente puritano nessa questão, embora sua robusta mulher estivesse
gritando alegremente com as outras, desapareceu habilidosamente, encaminhando-se para
dentro da casa. Vendo isso, Sonny Corleone dirigiu-se para a mesa da noiva e sentou-se ao lado
da jovem Lucy Mancini, a dama de honra. Estavam livres. Sua mulher se achava na cozinha
dando os últimos retoques para que fosse servido o bolo de casamento. Sonny murmurou
algumas palavras no ouvido da moça e ela se levantou. Ele esperou alguns minutos e depois
casualmente a seguiu, parando aqui e ali para falar com um convidado à medida que abria
passagem por entre a multidão.
Todos os olhares os seguiam. A dama de honra, inteiramente americanizada por três anos de