Page 16 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Assim, era isso o que ele desejava fazer. Hagen notou a mudança em Don Corleone. Este
  recebeu Brasi como um rei que saúda um súdito que lhe prestou um enorme serviço, jamais com
  familiaridade,  mas  com  um  respeito  real.  Por  meio  de  cada  gesto,  de  cada  palavra,  Don
  Corleone  tornava  claro  a  Laca  Brasi  que  ele  tinha  valor.  Nem  por  um  momento  mostrou-se
  surpreso pelo fato de lhe ser entregue pessoalmente o presente de casamento. Ele compreendia.
    O dinheiro contido no envelope era certamente mais do que qualquer outra pessoa teria dado.
  Brasi  gastara  muitas  horas  decidindo  sobre  a  quantia,  comparando-a  com  que  os  outros
  convidados deveriam oferecer. Ele queria ser o mais generoso para mostrar que era o que tinha
  mais respeito, e esse o motivo por que ele entregara o envelope pessoalmente a Don Corleone,
  uma gafe que este perdoava por meio de sua própria enternecida frase de agradecimento. Hagen
  viu o rosto de Laca Brasi perder a sua máscara de fúria, pleno de orgulho e prazer. Brasi beijou a
  mão  de  Don  Corleone,  antes  de  sair  pela  porta  que  Hagen  mantinha  aberta.  Hagen
  prudentemente apresentou um sorriso amistoso a Brasi a que o homem atarracado correspondeu
  esticando delicadamente os seus lábios descorados.
    Quando a porta se fechou Dou Corleone deu um pequeno suspiro de alivio. Brasi era o único
  homem  no  mundo  que  podia  fazê-lo  ficar  nervoso.  Ele  era  como  urna  força  natural  e  sem
  autocontrole. Tinha de ser manejado tão cautelosamente como dinamite. Don Corleone deu de
  ombros.  Podia-se  explodir  inofensivamente  até  dinamite  se  surgisse  a  necessidade.  E  olhou
  interrogadoramente para Hagen.
    —  Bonasera  é  o  único  que  falta?  —  Hagen  balançou  a  cabeça  afirmativamente.  Don
  Corleone franziu as sobrancelhas pensativamente. — Antes de trazê-lo — continuou — diga a
  Santino que venha aqui. Ele precisa aprender algumas coisas.
    Saindo para o jardim, Hagen começou a procurar ansiosamente Sonny Corleone. Pediu a
  Bonasera que fosse paciente e esperasse mais um pouco, depois se dirigiu a Michael Corleone e
  sua pequena.
    — Você viu Sonny por aí? — perguntou ele.
    Michael  balançou  a  cabeça  negativamente.  Diacho,  pensou  Hagen,  se  Sonny  estivesse
  trepando com a dama de honra esse tempo todo, ia haver uma complicação danada. A mulher
  dele, a família da moça; seria um desastre. Ansiosamente ele se dirigiu às pressas para a entrada
  pela qual vira Sonny desaparecer quase meia hora antes.
    Vendo Hagen entrar na casa, Kay Adams perguntou a Michael Corleone:
    —  Quem  é  aquele?  Você  o  apresentou  como  seu  irmão,  mas  o  nome  dele  é  diferente  e
  certamente não parece italiano.
    —  Tom  viveu  conosco  desde  os  doze  anos  de  idade  —  respondeu  Michael.  —  Os  pais
  morreram e ele estava vagando pelas ruas com uma horrível inflamação no olho. Sonny o trouxe
  para uma noite e ele aí ficou. Não tinha lugar para onde ir. Viveu conosco até casar.
    Kay Adams estava emocionada.
    —  Isto  é  realmente  romântico  —  disse  ela.  —  O  seu  pai  deve  ser  um  homem  bondoso.
  Adotar alguém assim, quando já tem tantos filhos dele mesmo!
    Michael  não  se  preocupou  em  explicar  que  os  imigrantes  italianos  consideravam  quatro
  filhos uma família pequena
    — Tom não foi adotado. Ele apenas vivia conosco — disse simplesmente.
    —  Oh!  —  exclamou  Kay.  —  Por  que  vocês  não  o  adotaram?  —  perguntou  ela  com
  curiosidade.
    Michael riu.
    —  Porque  meu  pai  disse  que  seria  desrespeitoso  para  Tom  mudar  o  nome  dele.
  Desrespeitoso para os próprios pais dele.
    Então  viram  Hagen  empurrar  Sonny,  atrás  da  porta  de  vidro,  para  o  escritório  de  Don
  Corleone e depois chamar com o dedo Amerigo Bonasera.
    — Por que eles incomodaram o seu pai com negócios num dia como esse? — indagou Kay.
    Michael riu novamente.
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