Page 21 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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—  Bem  —  disse  Don  Corleone,  a  mão  no  ombro  do  homem  — você  terá  a  sua  justiça.
  Algum dia, e esse dia talvez nunca chegue, eu lhe pedirei que me faça um serviço em troca. Até
  esse dia, considere essa justiça como um presente de minha mulher, a madrinha de sua filha.
    Quando a porta se fechou atrás do agente funerário agradecido, Don Corleone voltou-se para
  Hagen e disse:
    —  Dê  esse  trabalho  a  Clemenza  e  diga-lhe  que  tome  cuidado  para  só  usar  gente  de
  confiança,  gente  que  não  se  empolgue  pelo  cheiro  de  sangue.  Afinal  de  contas,  não  somos
  assassinos, pouco importando o que esse servidor de cadáveres possa imaginar em sua cabeça de
  idiota.
    Ele percebeu que o seu filho primogênito estava olhando através da janela para a festa no
  jardim.  Era  inútil,  Don  Corleone  pensou.  Se  recusava  a  ser  instruído,  Santino  nunca  poderia
  chegar  a  dirigir  os  negócios  da  família,  nunca  chegaria  a  ser  Don.  Teria  de  encontrar  outra
  pessoa. E imediatamente. Afinal de contas, não era imortal.
    Do  jardim,  surpreendendo  os  três  homens,  veio  um  tremendo  grito  de  felicidade.  Sonny
  Corleone aproximou-se o mais que pôde da janela. O que ele viu fê-lo correr em direção à porta,
  com um sorriso de satisfação no rosto.
    — É Johnny, ele veio para o casamento. Que foi que eu disse?
    Hagen foi até a janela.
    — É realmente seu afilhado — disse ele a Don Corleone. — Devo trazê-lo aqui?
    —  Não  —  respondeu  Don.  Deixe  o  pessoal  se  divertir  com  ele.  Que  ele  venha  a  mim,
  quando estiver pronto.
    Sorriu para Hagen.
    — Você vê? Ele é um bom afilhado.
    Hagen sentiu uma pontada de ciúme e disse secamente:
    — Faz dois anos. Ele provavelmente está em dificuldade de novo e precisa de sua ajuda.
    — E a quem deve ele vir senão a seu padrinho? — perguntou Don Corleone.
    A primeira pessoa a ver Johnny Fontane entrar no jardim foi Connie Corleone. Ela esqueceu
  a sua dignidade de noiva e gritou.
    — Johneee.
    Depois  atirou-se  em  seus  braços.  Ele  abraçou-a  apertadamente,  beijou-a  na  boca,
  conservando  seu  braço  em  volta  dela,  enquanto  outros  vinham  saudá-lo.  Todos  eram  velhos
  amigos, gente com quem ele havia crescido na Zona Oeste. Então, Connie começou a puxá-lo
  para junto do seu marido. Johnny achou graça ao ver que o rapaz louro estava um tanto agastado
  por não ser mais a vedete do dia. Ele mostrou todo o seu encanto ao apertar a mão do noivo e
  brindá-lo com um copo de vinho.
    — Que tal oferecer-nos uma canção, Johnny? — gritou, do coreto, uma voz conhecida.
    Ele olhou para cima e viu Nino Valenti sorrindo para ele. Johnny Fontane subiu no coreto e
  lançou os braços em torno de Nino. Eles tinham sido inseparáveis cantando juntos, saindo juntos
  com  garotas,  até  que  Johnny  começou  a  ficar  famoso  e  a  cantar  no  rádio.  Quando  foi  para
  Hollywood fazer filmes, Johnny telefonou para Nino algumas vezes, apenas para falar com ele,
  e prometera-lhe marcar uma data para vir cantar no clube. Mas jamais o fez. Vendo Nino agora,
  com seu sorriso alegre, zombeteiro, de bêbedo, toda a afeição voltou.
    Nino começou a dedilhar o bandolim. Johnny Fontane pôs a mão no ombro de Nino.
    — Isso é para a noiva — disse ele e, batendo com o pé, entoou as palavras de uma obscena
  canção de amor siciliana.
    Enquanto  cantava,  Nino  fazia  movimentos  sugestivos  com  o  corpo.  A  noiva  corou
  orgulhosamente, a multidão de convidados rugiu a- sua aprovação. Antes de a canção terminar,
  todos  estavam  batendo  com  os  pés  e  gritando  o  estribilho  malicioso,  de  duplo  sentido,  que
  terminava  cada  estrofe.  No  fim,  não  pararam  de  aplaudir,  enquanto  Johnny  não  limpou  a
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