Page 25 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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Don Corleone repeliu essa tolice emocional com um aceno de mão. Entre homens de bom
senso, problemas de negócios sempre podem ser resolvidos. Ele deu umas pancadinhas no ombro
do afilhado.
— Você está desanimado. Ninguém se importa com você, é o que você pensa. E perdeu
muito peso. Você bebe muito, hem? Você não dorme e toma pílulas?
Ele balançou a cabeça desaprovando.
— Agora quero que você siga as minhas ordens — disse Don Corleone. — Quero que fique
na minha casa durante um mês. Quero que coma bem, descanse e durma. Quero que você seja
meu companheiro. Gosto da sua companhia, e talvez você possa aprender algo a respeito do
mundo com seu Padrinho. É bem possível que lhe sirva de ajuda até na grande Hollywood. Mas
nada de cantoria, de bebedeira nem de mulheres. No fim do mês, você pode voltar para
Hollywood e esse pezzonovante, esse figurão, lhe dará o trabalho que você quer. Feito?
Johnny Fontane não acreditava absolutamente que Don Corleone tivesse tamanho poder. Mas
esse Padrinho jamais dissera que tal ou qual coisa podia ser feita sem que a fizesse.
— Esse sujeito é amigo pessoal de J. Edgar Hoover — disse Johnny. Não se pode nem
levantar a voz, quando se fala com ele.
— Ele é um negociante — respondeu Don Corleone brandamente. — Eu lhe farei uma
oferta que ele não poderá recusar.
— É muito tarde — disse Johnny — Todos os contratos foram assinados e vão começar a
filmagem daqui a uma semana Ë absolutamente impossível.
— Vá — ordenou Don Corleone — volte para a festa. Seus amigos esperam você. Deixe
tudo por minha conta — Empurrou Johnny Fontane para fora da sala.
Hagen sentou-se atrás da escrivaninha e tomou algumas notas. Don Corleone deu um suspiro
e perguntou:
— Há alguma coisa mais?
— Sollozzo não pode mais ser pretendo. Você terá de vê-lo esta semana.
Hagen segurava a pena sobre a folhinha.
Don Corleone deu de ombros.
— Agora que o casamento terminou, você pode marcar para quando quiser.
Esta resposta dizia duas coisas a Hagen. Mais importante, que a resposta a Virgil Sollozzo
seria não. A segunda, que Don Corleone desde que não dera a resposta antes do casamento da
filha, esperava que o seu não trouxesse complicação.
— Devo dizer a Clemenza para fazer alguns homens virem morar aqui na casa? —
perguntou Hagen cautelosamente.
— Para quê? — retrucou Don Corleone impaciente. — Não respondi antes do casamento,
porque um dia importante como esse não podia ser perturbado por qualquer nuvem, nem mesmo
à distância. Eu também queria saber antecipadamente sobre o que ele desejava falar. Agora
sabemos. O que ele vai propor é uma infamita.
— Então, você vai recusar? — perguntou Hagen. Como ele confirmasse com a cabeça,
Hagen prosseguiu: — Penso que todos nós devemos discutir isso, a Família inteira, antes de você
dar a resposta.
Don Corleone Sorriu.
— Você pensa assim? Ótimo, vamos discutir o assunto. Quando você voltar da Califórnia.
Quero que tome o avião para lá amanha e resolva esse negócio de Johnny. Veja esse
pezzonovante do cinema. Diga a Sollozzo que vou vê-lo, quando você voltar de lá. Alguma coisa
mais?
— Telefonaram do hospital — respondeu Hagen formalmente. — O consigliori Abbandando
está morrendo, ele não passará desta noite. A família foi chamada ao hospital e convidada a
esperar o desenlace.
Hagen ocupara o lugar do consigliori durante o último ano, desde que o câncer aprisionara