Page 28 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 28
Era quase crepúsculo, quando o bolo de casamento foi apresentado, aplaudido e comido.
Especialmente feito por Nazorine, estava tão habilidosamente enfeitado com conchas de creme,
tão delicioso, que a noiva avidamente as arrancou do corpo do bolo, antes de escapar para a lua-
de-mel com o seu noivo louro. Don Corleone delicadamente apressou a partida dos convidados,
notando, entrementes, que o sedan preto com os agentes do FBI não estava mais à vista.
Finalmente, o único carro que encontrava na pista era o enorme Cadillac preto, com Freddie
ao volante. Don Corleone acomodou-se no assento da frente, movendo-se com rápida
coordenação para sua idade e volume. Sonny, Michael e Johnny Fontane acomodaram-se no
assento de trás. Don Corleone falou para Michael:
— Sua namorada voltará para a cidade sozinha, sem problemas?
Michael confirmou com a cabeça.
— Tom disse que se encarregará disso.
Don Corleone balançou a cabeça com satisfação, ante a eficiência de Hagen.
Devido ao racionamento de gasolina ainda em vigor, havia pouco tráfego na estrada para
Manhattan. Em menos de uma hora, o Cadillac passava pela rua do Hospital Francês. Durante a
viagem, Don Corleone perguntou ao filio mais novo se ele ia bem na escola. Michael disse que
sim.
— Johnny disse que você está acertando os negócios dele em Hollywood — falou Sonny do
banco traseiro logo em seguida. — Você quer que eu vá lá para ajudar a resolver a situação?
Don Corleone foi incisivo.
— Tom vai lá hoje à noite. Não precisará de nenhuma ajuda, é um caso simples.
Sonny Corleone deu uma gargalhada.
— Johnny pensa que você não pode resolver a coisa, por isso achei que você podia querer
que eu fosse lá.
Don Corleone virou a cabeça para trás.
— Por que você duvida de mim? — perguntou a Johnny Fontane. — Seu Padrinho não
cumpriu sempre o que prometeu? Alguma vez me fizeram de bobo?
— Padrinho — apressou-se Johnny em desculpar.se — o homem que dirige aquele negócio
é um verdadeiro pezzonovante de alto gabarito. Você não pode fazê-lo mudar de opinião, nem
mesmo com dinheiro. Ele é muito bem relacionado. E me odeia. Na verdade não sei como você
pode alterar isso.
Don Corleone respondeu com deleite carinhoso.
— Eu garanto que você terá o papel. Não vamos decepcionar meu afilhado, hem, Michael?
— disse cutucando Michael com o cotovelo.
Michael, que nunca duvidou do pai em momento algum, balançou a cabeça.
Quando se dirigiam para a entrada do hospital, Don Corleone segurou o braço de Michael, de
forma que os outros passassem à frente.
— Quando você acabar seu curso, venha falar comigo — falou Don Corleone. — Tenho
alguns planos que lhe agradarão. — Michael nada respondeu. Então, o pai grunhiu exasperado: —
Sei como você é. Não lhe pedirei para fazer nada que não aprove. Isso é algo especial. Siga o seu
caminho agora, você é um homem, afinal. Mas me procure, como deve fazer um filho, quando
você terminar os seus estudos na escola.
A família de Genco Abbandando, a mulher e três filhas vestidas de preto, estava reunida
como um bando de corvos roliços no chão de ladrilhos brancos do corredor do hospital. Quando
as mulheres viram Don Corleone sair do elevador, pareciam ter levantado vôo dos ladrilhos
brancos, num impulso instintivo em direção a ele, a fim de obter proteção. A mãe parecia
nobremente resoluta no seu vestido preto, as filhas gordas e despretensiosas. A Sra. Abbandando
beliscou a bochecha de Don Corleone, soluçando e lamentando:
— Oh, como o senhor é bom em vir aqui, no dia do casamento de sua filha!