Page 27 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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poder mais. Achava-o maravilhoso.
— Vamos falar com ele mais tarde — disse Michael.
Quando Johnriy acabou de cantar e desapareceu dentro da casa com Don Corleone, Kay
disse maliciosamente a Michael:
— Não me diga que um artista de cinema tão famoso como Johnny Fontane precisa pedir
favor a seu pai.
— Ele é afilhado de meu pai — respondeu Michael. — E se não fosse meu pai, ele não seria
um astro de cinema hoje.
— Isso parece outra grande história sua — gargalhou Kay.
Michael balançou a cabeça negativamente.
— Não, posso contar esta — disse ele.
— Conte-me — pediu ela.
Então Michael contou: Contou-lhe sem ser engraçado, sem orgulho, sem qualquer
explicação, senão a de que há oito anos passados, Don Corleone era mais impetuoso, e, como a
questão dizia respeito a seu afilhado, ele considerava isso um caso de honra pessoal.
A história foi narrada rapidamente. Há oito anos passados, Johnny Fontane fizera um sucesso
extraordinário cantando com uma banda popular. Tornou-se unia grande atração radiofônica.
Infelizmente, o diretor da banda, uma personalidade bem conhecida do mundo das diversões,
chamado Les Halley, fizera Johnny assinar um contrato de cinco anos. Isso era hábito no meio
artístico. Les Halley podia então emprestar Johnny a quem quisesse e ficar com a maior parte do
dinheiro.
Dou Corleone entrou nas negociações pessoalmente. Ofereceu a Les Halley vinte mil
dólares para liberar Johnny Fontane do contrato. Halley propôs uma percentagem de 50% dos
ganhos de Johnny. Don Corleone achou graça. Baixou a oferta de vinte mil dólares para dez mil.
O diretor da banda, um homem que não conhecia nada mais além do meio artístico, não
compreendeu absolutamente a importância da oferta mais baixa, e a recusou.
No dia seguinte, Dou Corleone foi ver pessoalmente o diretor da banda, Levou consigo seus
dois melhores amigos: Genco Abbandando, que era seu consigliori, e Luca Brasi. Sem outras
testemunhas, Dou Corleone persuadiu Les Halley a assinar um documento, cedendo todos os
direitos sobre Johnny Fontane, pelo pagamento de um cheque visado na importância de dez mil
dólares. Don Corleone fez isso encostando uma pistola na testa do diretor da banda e
assegurando-lhe com a maior seriedade que ou sua assinatura ou seus miolos estariam nesse
documento exatamente num minuto. Les Halley assinou. Don Corleone meteu a pistola no bolso
e entregou-lhe o cheque visado.
O resto era história. Johnny Fontane continuou a subir até tornar-se o cantor mais sensacional
do país. Fez filmes musicais em Hollywood que trouxeram uma fortuna para o seu estúdio. Seus
discos faturavam milhões de dólares. Então, ele se divorciou de sua mulher, que fora sua
namorada desde a infância, e abandonou as duas filhas, para casar com a estrela loura mais
espetacular do cinema. Ele logo ficou sabendo que ela era uma “prostituta”. Ele bebia, jogava,
procurava outras mulheres. Perdeu a voz, e não podia mais cantar. Pararam de vender os seus
discos. O estúdio não lhe renovou o contrato. E assim, agora voltou para o seu Padrinho.
— Você tem certeza — falou Kay refletindo — de que não está com ciúme de seu pai? Tudo
o que você me contou sobre ele mostra-o fazendo algo por outras pessoas. Ele deve ter um bom
coração. — Ela deu um sorriso amarelo. Na realidade, os seus métodos não são exatamente
constitucionais.
Michael deu um suspiro.
— Acho que a coisa parece assim, mas deixe-me dizer-lhe isso. Você já ouviu falar
naqueles exploradores árticos que deixam depósitos secretos de comida espalhados na rota do
Pólo Norte? Justamente para o caso de que possam necessitar deles algum dia? Isso é o que
representam os favores do. meu pai. Algum dia ele estará em cada uma das casas dessas pessoas
e será melhor que elas venham ao encontro dele.