Page 20 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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respeito. Não me oferece sua amizade. Você vem à minha casa no dia do casamento de minha
  filha e me pede para matar, dizendo — aqui a voz de Don Corleone fez uma imitação desdenhosa
  — “pagarei o que o senhor pedir”. Não, não, eu não estou ofendido, mas o que fiz eu para você
  me tratar de modo tão desrespeitoso?
    Bonasera chorou em sua agonia e medo:
    — A América era boa para mim. Eu queria ser um bom cidadão. Queria que minha filha
  fosse americana.
    Don Corleone bateu palmas com aprovação decisiva.
    — Bem dito. Muito bem. Então você não tem do que se queixar. O juiz decidiu. A América
  decidiu. Leve flores para sua filha e uma caixa de bombons, quando for visitá-la no hospital. Isso
  a  confortará.  Fique  contente.  Afinal  de  contas,  isso  não  é  uma  coisa  séria,  os  rapazes  eram
  jovens, ardorosos, e um deles é filho de um político poderoso. Não, meu caro Amerigo, você
  sempre foi honesto. Devo admitir, embora você rejeitasse minha amizade, que eu confiaria mais
  na palavra dada de Amerigo Bonasera do que na de qualquer outro homem. Assim, dê-me a sua
  palavra de que você porá de lado essa loucura. Não é uma atitude americana. Esqueça. A vida é
  cheia de infortúnios.
    A ironia cruel e desdenhosa com que tudo isso foi dito e a raiva controlada de Don Corleone
  reduziram o pobre agente funerário a uma geléia trêmula, mas ele desabafou corajosamente
  outra vez:
    — Peço-lhe justiça.
    — O tribunal lhe fez justiça — respondeu Don Corleone laconicamente.
    Bonasera balançou a cabeça obstinadamente.
    — Não. Eles fizeram justiça aos jovens. Não fizeram justiça a mim.
    Don Corleone reconheceu essa fina distinção com um aprovador aceno de cabeça, depois
  perguntou:
    — Qual é sua justiça?
    — Olho por olho — respondeu Bonasera.
    — Você pede mais do que isso — disse Don Corleone. — Sua filha está viva.
    Bonasera afirmou relutantemente:
    — Que eles sofram como ela está sofrendo.
    Don Corleone esperou que ele dissesse mais alguma coisa.
    — Quanto devo pagar ao senhor? — perguntou Bonasera, num último assomo de coragem.
    Era um lamento desesperado.
    Don Corleone voltou-lhe as costas. Era um sinal de despedida. Bonasera não se moveu.
    Finalmente, suspirando, como um homem de bom coração que não pode ficar zangado com
  um amigo que erra, Don Corleone voltou-se para o agente funerário, que estava agora tão pálido
  como um de seus cadáveres. Don Corleone foi gentil, paciente.
    — Por que você receia dar-lhe a sua primeira lealdade? — perguntou ele. — Você vai aos
  tribunais de justiça e espera meses. Gasta dinheiro com advogados que sabem muito bem que lhe
  farão de bobo. Aceita o julgamento de um juiz que se vende como a pior prostituta das ruas. Há
  anos passados, quando você precisava de dinheiro, ia aos bancos e pagava juros exorbitantes,
  esperava de chapéu na mão como um mendigo, enquanto eles farejavam por aí, metiam o nariz
  até onde não deviam, para terem certeza de que você poderia pagar a eles. — Don Corleone fez
  uma pausa, sua voz se tornou mais ríspida. — Mas se você tivesse vindo a mim, minha bolsa
  estaria à sua disposição. Se você tivesse vindo pedir-me justiça, essa escória que desgraçou sua
  filha estaria hoje chorando lágrimas de amargura. Se por infelicidade um homem honesto como
  você fizesse inimigos eles se tornariam meus inimigos — Don Corleone levantou o braço, o dedo
  apontando para Bonasera — e então, acredite em mim, eles teriam medo de você.
    Bonasera baixou a cabeça e murmurou com voz abafada:
    — Seja meu amigo. Eu aceito.
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