Page 15 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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No jardim, Kay Adams estava impressionada pelo rubor estampado no rosto de Luca Brasi.
Ela perguntou quem era ele. Michael trouxera Kay ao casamento para que ela se inteirasse
lentamente e, talvez sem um grande choque, da verdade a respeito do pai dele. Mas até então ela
parecia considerar Don Corleone como um homem de negócios um tanto despido de ética.
Indiretamente, Michael resolvera contar-lhe parte da verdade. Explicou que Laca Brasi era um
dos homens mais temidos do mundo do crime na região. O seu grande talento, dizia-se, consistia
em que ele, sozinho, podia executar uma tarefa criminosa sem cúmplices, o que
automaticamente tornava a descoberta e condenação pela lei quase impossíveis. Michael fez
uma careta e acrescentou:
— Não sei se toda essa história é verdade. O que sei é que ele é uma espécie de amigo de
meu pai.
Pela primeira vez, Kay começou a entender.
— Você não está insinuando — perguntou ela um tanto incrédula — que um homem como
esse trabalha para o seu pai?
O diabo que se importava com aquilo, pensou ele. Falou então diretamente.
— Há coisa de quinze anos, alguns indivíduos queriam apoderar-se dos negócios de
importação de azeite do meu pai. Tentaram matá-lo e quase o conseguiram. Laca Brasi foi atrás
deles. O fato é que ele matou seis homens em duas semanas e isso acabou com a famosa guerra
do azeite.
Ele sorriu como se tivesse contado uma anedota engraçada.
Kay deu de ombros.
— Você diz que seu pai foi baleado por gangsters?
— Há quinze anos passados — respondeu Michael. — Tudo ficou calmo desde então.
Ele receava que tivesse avançado demais.
— Você está procurando assustar-me — falou Kay. — Você não quer exatamente que eu
case com você. — Sorriu, cutucou-lhe com o cotovelo e acrescentou: — Muito sabidinho!
— Quero que você pense nisso — falou Michael, também sorrindo.
— Ele matou realmente seis homens? — perguntou Kay.
— Isso é o que os jornais afirmam — respondeu Michael. — Ninguém jamais provou isso.
Mas há outra história a respeito dele que ninguém gosta de contar. Diz-se que é tão horrível, que
nem mesmo meu pai toca nesse assunto. Tom Hagen sabe a história, mas não me quer contar.
Uma vez, brincando, perguntei a ele: “Quando terei idade bastante para ouvir essa história a
respeito de Laca?” Ele respondeu: “Quando você tiver cem anos.”
Michael sorveu alguns goles do copo de vinho.
— Isso deve ser uma história! Isso deve ser um Luca!
Luca Brasi era na verdade homem para intimidar o próprio diabo no inferno. Baixo,
atarracado, cabeçudo, a sua presença emitia alarmantes toques de perigo. O seu rosto estampava
uma máscara de fúria. Tinha os olhos castanhos, mas sem nada do calor dessa cor, parecendo
mais uma cor morena mor ta. A boca não era tão cruel quanto sem vida: fina, elástica e
descorada.
Sua reputação de violento era pavorosa e a sua devoção a Don Corleone, lendária. Ele era,
em pessoa, um dos sustentáculos do poder de Don Corleone. Pertencia a uma espécie rara de
homens.
Não temia a polícia, nem a sociedade, nem Deus, nem o inferno, como também não temia
nem amava seus semelhantes. Mas resolvera e escolhera temer e amar a Don Corleone. Levado
à presença de Don Corleone, o terrível Luca Brasi manteve-se em rigorosa atitude de respeito.
Gaguejou a respeito das floreadas felicitações que apresentou e externou a esperança formal de
que o primeiro neto seria do sexo masculino Em seguida, entregou a Don Corleone um envelope
abarrotado de dinheiro a título de presente para o par de noivos.