Page 13 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
P. 13
escola, era uma moça madura que já gozava de certa “reputação”. Durante todos os ensaios do
casamento ela flertara com Sonny Corleone de modo provocante e brincalhão, que ela pensava
ser permitido, porque ele era padrinho e seu par na cerimônia nupcial. Agora, segurando o seu
longo vestido cor-de-rosa para que não arrastasse no chão, Lucy Mancini entrou na cana,
sorrindo com fingida inocência, subiu vaporosamente a escada e correu para o banheiro, onde
permaneceu por alguns momentos. Quando saiu, Sonny Corleone estava no patamar de cima,
acenando para que ela subisse.
Por trás da janela fechada do “escritório” de Don Corleone, uma sala no canto ligeiramente
elevada, Thomas Hagen observava a festa de casamento que se realizava no jardim engalanado.
As paredes atrás dele estavam abarrota das de livros de Direito. Hagen era o advogado de Don
Corleone e o consigliori, ou conselheiro interino, e como tal mantinha a posição subordinada mais
importante nos negócios da família. Ele e Don Corleone tinham resolvido mais de um problema
complicado nessa sala, e assim, quando ele viu o Padrinho deixar a festa e entrar na casa, sabia
que, com casamento ou não, haveria um trabalhinho a fazer nesse dia. Don Corleone viria vê-lo.
Depois Hagen viu Sonny Corleone sussurrar no ouvido de Lucy Mancini e a pequena comédia
que desempenharam, quando ele a seguiu ao entrar na casa. Hagen fez caretas, debatendo
intimamente se informava ou não o fato a Don Corleone, e decidiu não comunicá-lo. Foi até a
escrivaninha e apanhou a lista manuscrita das pessoas que tinham obtido permissão para ver Don
Corleone em particular. Quando este entrou na sala, Hagen entregou-lhe a lista. Don Corleone
balançou a cabeça e disse:
— Deixe Bonasera para o fim.
Hagen atravessou as portas de vidro e encaminhou-se diretamente para o jardim onde os
suplicantes estavam reunidos em torno do barril de vinho. Ele apontou para o padeiro, o
rechonchudo Nazorine.
Don Corleone recebeu o padeiro com um abraço. Eles haviam brincado juntos quando
crianças, na Itália, e cresceram amigos. Toda Páscoa, saborosos pastéis chegavam à casa de
Don Corleone. No Natal, nos aniversários dos membros da família, tortas deliciosas
proclamavam o respeito dos Nazorine. E durante todos os anos, magros e gordos, Nazorine com
entusiasmo pagava a sua contribuição ao sindicato dos panificadores, organizado por Don
Corleone no tempo em que era ainda inexperiente. Jamais pedira um favor em troca, a não ser a
possibilidade de comprar cupões de racionamento oficiais no câmbio negro durante a guerra.
Chegara agora o momento de o padeiro fazer valer os seus direitos como amigo leal, e Don
Corleone nutria grande prazer em atender-lhe o pedido.
Deu ao padeiro um charuto Di Nobili e um copo de strega amarelo e pôs a mão no ombro
do amigo para estimulá-lo. Isso era um gesto que denotava a simplicidade d Don Corleone. Ele
sabia, pela sua própria experiência dolorosa, que era preciso ter coragem para pedir um favor a
um semelhante.
O padeiro contou a história de sua filha e Enzo, um belo rapaz da Sicília, aprisionado pelo
exército americano, enviado aos Estados Unidos como prisioneiro de guerra, agraciado com a
liberdade condicional para ajudar o nosso esforço de guerra! Um amor respeitoso e puro nascera
entre o honesto Enzo e a sua adorada Katherine mas agora que a guerra terminara, o pobre rapaz
seria repatriado para a Itália e a filha de Nazorine certamente morreria de paixão. Só o Padrinho
Corleone poderia ajudar esse atribulado casal de namorados. Ele era a última esperança deles.
Don Corleone passeava com Nazorine de um lado para o outro da sala, com a mão no ombro
do padeiro e balançando a cabeça compreensivamente para manter a coragem do homem.
Quando o padeiro terminou, Don Corleone sorriu para ele e disse:
— Meu caro amigo, ponha todas as suas preocupações de lado.
E continuou a falar, explicando cuidadosamente o que se devia fazer. Devia-se fazer uma
petição ao congressista (deputado) eleito pelo distrito. O congressista apresentaria um projeto de
lei especial que concederia a cidadania americana a Enzo. O projeto certamente seria aprovado