Page 11 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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alguns dos mais curiosos convidados do casamento. Ele, por sua vez, divertia-se pelo fato de ela
achar essa gente exótica e, como sempre, encantado pelo seu imenso interesse em alguma coisa
nova e estranha para ela. Finalmente, a atenção da moça voltou-se para um pequeno grupo de
homens reunidos em torno de um barril de madeira, de vinho feito em casa. Os homens eram
Amerigo Bonasera, Nazorine Padeiro, Anthony Coppola e Luca Brasi. Com sua habitual e viva
inteligência, ela fez uma observação sobre o fato de que esses quatro homens não pareciam
particularmente felizes. Michael sorriu.
— Não, eles não parecem felizes — afirmou ele. — Estão esperando para falar com meu
pai em particular. Têm favores a pedir.
Na verdade, era fácil verificar que os quatro homens seguiam constantemente Don Vito com
os olhos.
Enquanto Don Vito Corleone saudava os convidados, um Chevrolet sedan preto parava no
lado distante da alameda pavimentada. Dois homens no assento dianteiro puxaram cadernos de
notas do bolso do paletó e, sem qual quer tentativa de ocultar o gesto, anotaram os números dos
outros carros estacionados em torno da alameda.
— Aqueles sujeitos ali devem ser tiras — disse Sonny voltando-se para o pai.
Don Corleone deu de ombros.
— Não sou o dono da rua. Eles podem fazer o que quiserem.
O rosto de cupido de Sonny ficou vermelho de raiva.
— Esses patifes imundos, eles não respeitam nada.
Sonny desceu os degraus da casa e atravessou a alameda encaminhando-se para onde estava
estacionado o Chevrolet. Aproximou o rosto raivosamente do rosto do motorista, o qual não
recuou, mas abriu inopinadamente a carteira para mostrar um cartão de identidade verde. Sonny
deu um passo atrás sem dizer uma palavra. Cuspiu de tal maneira que a saliva atingiu a porta
traseira do sedan, depois afastou-se. Ele esperava que o motorista saísse do carro e viesse atrás
dele, na alameda, mas nada aconteceu. Quando ele alcançou os degraus, disse para o pai:
— Esses sujeitos são agentes do FBI. Estão anotando os números de todos os carros.
Moleques safados.
Don Corleone sabia quem eles eram. Os seus amigos mais chegados e mais íntimos tinham
sido aconselhados a comparecer ao casamento em automóveis que não fossem da propriedade
deles. E embora ele desaprovasse a tola demonstração de raiva do filho, o acesso de cólera tinha
uma utilidade. Convenceria os intrusos de que a presença deles era indesejável e que ninguém a
aguardava. Assim, o próprio Don Corleone não estava zangado. Aprendera há muito que a
sociedade impõe insultos que devem ser suportados, confortados pelo conhecimento de que neste
mundo chega o momento em que o mais humilde dos homens, se conservar os olhos abertos,
pode vingar-se do mais poderoso. Era este conhecimento que impedia Don Vito de perder a
humildade que todos os amigos admiravam nele.
Mas agora, no jardim atrás da casa, um conjunto de quatro instrumentos começava a tocar.
Todos os convidados tinham chegado. Don Corleone expulsou os intrusos de sua mente e conduziu
os dois filhos para a festa do casa mento.
Havia agora centenas de convidados no enorme jardim. Alguns dançando na plataforma de
madeira adornada com flores, outros sentados nas mesas compridas abarrotadas de comida
condimentada e grandes jarros de vinho tinto feito em casa. A noiva, Connie Corleone, estava
esplendorosa, sentada numa mesa especialmente levantada, com o noivo, as damas de honra e os
acompanhantes. Era um quadro rústico no velho estilo italiano. Não para o gosto da noiva, mas
Connie consentira num casamento à italiana para agradar o pai porque ela lhe causara grande
desgosto com a escolha do marido.
O noivo, Carlo Rizzi, um mestiço, cujo pai era siciliano e a mãe, natural do Norte da Itália, de
quem herdara o cabelo louro e os olhos azuis. Os seus pais viviam em Nevada, e Carlo deixara
esse Estado em conseqüência de uma pequena complicação com a lei. Em Nova York, conheceu