Page 10 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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tal negócio.
    O  segundo  filho,  Frederico,  chamado  Fred  ou  Fredo,  era  um  filho  pelo  qual  todo  italiano
  rogava aos santos para ter. Obediente, leal, sempre a serviço do pai, vivendo com os pais aos 30
  anos de idade. Era baixo e corpulento, não era bonito, mas tinha a mesma cabeça de cupido da
  família, o capacete ondulado de cabelo sobre o rosto redondo e lábios arqueados. Só que, em
  Fred,  esses  lábios  não  eram  sensuais,  mas  graníticos.  Sendo  sorumbático,  era  ainda  um  bom
  apoio para o pai, jamais lhe causava embaraços por conduta escandalosa com mulheres. Apesar
  de  todas  essas  virtudes,  ele  não  possuía  esse  magnetismo  pessoal,  essa  força  animal,  tão
  necessários a um líder ou condutor de homens, não se esperando também que ele herdasse o
  negócio da família.
    O terceiro filho, Michael Corleone, não estava com o pai e os dois irmãos, mas achava-se
  sentado numa mesa no canto mais afastado do jardim. Mas mesmo ali, ele não podia escapar às
  atenções dos amigos da família.
    Michael Corleone era o filho caçula de Don Vito e o único que recusara ficar sob a direção
  do grande homem. Não tinha o rosto carregado, em forma de cupido dos outros filhos, e o seu
  cabelo  bem  preto  era  estirado  e  não  ondulado.  A  sua  pele  era  moreno-oliva  clara  que  seria
  considerada linda numa garota. Ele era delicadamente bonito. Na verdade, houve tempo em que
  Don  Vito  sentiu  alguma  preocupação  a  respeito  da  masculinidade  do  seu  filho  caçula.
  Preocupação que desapareceu completamente quando Michael Corleone fez dezessete anos de
  idade.
    Agora, o filho caçula achava-se sentado no canto extremo do jardim, para proclamar a sua
  alienação  voluntária  do  pai  e  da  família.  Ao  lado  dele,  estava  sentada  a  moça  americana  de
  quem  todo  mundo  ouvira  falar,  mas  que  ninguém  havia  visto  até  aquele  dia.  Ele  tinha,
  evidentemente,  mostrado  o  devido  respeito  e  apresentado  a  tal  moça  a  todos  os  presentes  ao
  casamento,  inclusive  à  própria  família.  Não  se  impressionaram  com  ela.  A  moça  era  muito
  magra,  muito  loura.  Seu  rosto  era  bem  acentuadamente  inteligente  para  uma  mulher  e  seus
  modos  muito  livres  para  uma  donzela.  O  nome  dela,  também,  soava  de  modo  esquisito  aos
  ouvidos:  chamava-se  Kay  Adams.  Se  ela  tivesse  dito  que  a  sua  família  se  estabelecera  na
  América há duzentos anos e que o seu nome era comum, eles não dariam a menor importância.
    Todos os convidados perceberam que Don Vito não dava atenção especial ao terceiro filho.
  Michael fora o filho preferido antes da guerra e, obvia mente, seria o herdeiro escolhido para
  dirigir o negócio da família, quando chegasse o momento propício. Ele possuía a força tranqüila e
  inteligência do seu grande pai, o instinto inato para agir de tal maneira, que os homens não tinham
  outro  jeito  senão  respeitá-lo.  Mas  quando  estourou  a  II  Guerra  Mundial,  Michael  Corleone
  alistou-se  voluntariamente  no  Corpo  de  Fuzileiros  Navais.  Desafiou  a  ordem  expressa  do  pai
  quando fez isso.
    Don  Corleone  não  tinha  o  desejo,  a  intenção,  de  deixar  que  seu  filho  caçula  morresse  a
  serviço  de  uma  potência  estrangeira.  Médicos  foram  subornados,  medidas  secretas  foram
  tomadas. Uma grande importância em dinheiro foi gasta para tomar as precauções necessárias.
  Mas Michael tinha 21 anos de idade e nada se podia fazer contra a sua própria vontade. Ele se
  alistou e lutou no Oceano Pacífico. Chegou ao posto de capitão e ganhou medalhas. Em 1944, o
  seu  retrato  foi  publicado  na  revista Life  com  uma  série  de  fotografias  de  suas  façanhas.  Um
  amigo  mostrou  a  revista  a  Don  Corleone  (a  família  não  teve  coragem)  e  este  resmungou
  desdenhosamente:
    — Ele fez esses milagres para estrangeiros.
    Quando  Michael  Corleone  foi  desligado,  no  início  de  1945,  para  restabelecer-se  de  um
  ferimento grave, não tinha a menor idéia de que o pai lhe havia arranjado a sua baixa. Ficou em
  casa algumas semanas e, depois, sem consultar ninguém, ingressou no Colégio Dartmouth, em
  Hanover, New Hampshire, e assim deixou a casa do pai. Voltava agora para o casamento da
  irmã e para mostrar-lhes a sua futura esposa, aquele tipo debilitado de moça americana.
    Michael  Corleone  estava  divertindo  Kay  Adams,  contando-lhe  pequenas  histórias  sobre
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