Page 14 - O Poderoso Chefao - Mario Puzo_Neat
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pelo  Congresso.  Isso  era  um  privilégio  que  esses  patifeS  se  outorgavam  reciprocamente.  Don
  Corleone  explicou  que  isso  custaria  dinheiro,  sendo  que  o  preço  agora  em  vigor  era  dois  mil
  dólares. Ele, Don Corleone, garantia a “execução do trabalho” e aceitava o pagamento. Será que
  o amigo concordava?
    O padeiro acenou com a cabeça vigorosamente. Ele não esperava um favor tão grande de
  graça. Isso era compreensível. Uma lei especial do Congresso não pode custar barato. Nazorine
  estava  quase  chorando  ao  agradecer.  Don  Corleone  levou-o  até  a  porta,  assegurando-lhe  que
  pessoas idôneas seriam enviadas à padaria para colher todos os detalhes, para completar todos os
  documentos necessários. O padeiro abraçou-o antes de desaparecer pelo jardim.
    Hagen sorriu para Don Corleone.
    — Isso é um bom investimento para Nazorine. Um genro e um ajudante barato na padaria
  para toda a vida por apenas dois mil dólares.
    — A quem devo dar esse trabalho? — perguntou, depois de uma pausa.
    O Don franziu as sobrancelhas e pensou.
    — Não ao nosso paisan. Dê ao judeu do distrito próximo. Mude os endereços das residências.
  Penso que deve haver muitos casos desses, agora que a guerra terminou; devemos ter gente extra
  em Washington para controlar a abundância de pedidos e não aumentar o preço.
    Hagen  fez  uma  anotação  em  seu  caderninho:  “Não  Congressista  Luteco.  Experimentar
  Fischer.”
    O homem seguinte trazido por Hagen era um caso muito simples. Seu nome era Anthony
  Coppola e ele era filho de um homem com quem Don Corleone em sua juventude trabalhara,
  em suas atividades ferroviárias. Coppola precisava de quinhentos dólares para abrir uma pizzaria;
  para um depósito de algum material e o forno especial. Por motivos que não vêm ao caso, ele
  não dispunha de crédito. Don Corleone meteu a mão no bolso e puxou um maço de notas. Não
  era bastante.
    — Empreste-me cem dólares, eu lhe pagarei segunda-feira quando for ao banco — disse a
  Tom Hagen, fazendo uma careta.
    O  pedinte  protestou  que  quatrocentos  dólares  chegariam,  mas  Don  Corleone  bateu-lhe
  amigavelmente no ombro, dizendo em tom de desculpa:
    — Esse luxuoso casamento deixou-me sem dinheiro.
    Ele pegou o dinheiro que Hagen lhe entregou e deu-o a Anthony Coppola, juntamente com o
  seu próprio maço de notas.
    Hagen observava com tranqüila admiração. Dou Corleone sempre preconizara que quando
  um  homem  era  generoso  devia  mostrar  a  generosidade  de  modo  pessoal.  Que  honra  para
  Anthony Coppola que um homem como Don Corleone tomasse dinheiro emprestado de alguém
  para emprestar a ele. Não que Coppola não soubesse que Don Corleone fosse milionário, mas
  quantos milionários se dignariam proporcionar a si mesmos um pequeno incômodo sequer para
  atender o pedido de um amigo pobre?
    Don Corleone levantou a cabeça inquisitivamente.
    — Ele não está na lista — comentou Hagen — mas Luca Brasi deseja vê-lo. Ele acha que
  não pode ser em público, mas quer felicitá-lo em pessoa.
    Pela primeira vez, Don Corleone pareceu mostrar certo descontentamento. A resposta foi
  evasiva.
    — É necessário? — perguntou ele.
    Hagen deu de ombros.
    — Você o entende melhor do que eu. Mas ele está muito grato por ter sido convidado por
  você para o casamento. Jamais sonhou com isso. Penso que ele quer mostrar a sua gratidão.
    Don  Corleone  balançou  a  cabeça  e  fez  o  gesto  para  que  Luca  Brasi  fosse  trazido  à  sua
  presença.
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