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celular para chamar a polícia! Por favor!”. A resposta foi: “Não podemos. Não trouxe meu
celular”. Pense bem no que você faria diante da situação, antes de acusar a monstruosidade
dessa resposta.
Em seguida ela atravessa vários jardins, salta cercas e vê uma mulher na janela da casa. Ela
bate na janela e diz: “Por favor, me ajude! Chame a polícia! Fui sequestrada. Chame a
polícia!”. A mulher reage dizendo: “O que você está fazendo no meu jardim? O que você
quer?”. Ela dá seu nome completo, explica que foi sequestrada e que precisa chamar a
polícia. A mulher retruca: “Por que você veio justo até a minha casa?”. Então hesita: “Espere
na cerca viva. E não pise no gramado!”. Antes de julgar a mulher da janela — e acho que
devemos julgar, sim — vale a pena nos perguntarmos o que faríamos nessa situação.
Mais tarde, os próprios policiais tratariam Natascha com desprezo por ela não ter
permitido que seguissem se comportando como seus salvadores. Pelo contrário. Ficaria
provado, num escândalo posterior, que seu caso foi uma combinação de desleixo com
incompetência. Que havia uma pista sólida sobre o sequestrador e a localização do cativeiro
e que esta pista nunca foi investigada. Os documentos que atestavam o descaso
desapareceram e só mais tarde a fraude foi desmascarada.
Enquanto isso, Natascha foi atormentada por interrogatórios infindáveis. Tinham por
objetivo obrigá-la a afirmar que estava sendo chantageada por cúmplices, que fora
sequestrada por uma quadrilha. Queriam obrigá-la a negar o que de fato aconteceu: a força
policial tinha sido vencida por seus próprios erros e por um homenzinho tímido e frágil, que
esteve o tempo todo ali, a apenas alguns quilômetros da casa da vítima.
“As autoridades começaram a me tratar diferente com o passar do tempo. Fiquei com a
impressão que, de certo modo, eles se ressentiam do fato de que eu me libertara sozinha.
Nesse caso, eles não eram os salvadores, mas aqueles que haviam falhado durante anos.”
Quando Natascha se recusou a representar o papel de vítima passiva do “monstro sexual”,
foi odiada e ridicularizada. Os mais bonzinhos, com seus diplomas na parede e sua
condescendência profissional, trataram de carimbar o diagnóstico definitivo na sua testa. A
patologia de sempre: “Síndrome de Estocolmo”. Mas deixemos que Natascha fale, porque
ela se defende com muita propriedade também dos bem-intencionados.
“As coisas não são totalmente pretas ou brancas. E ninguém é totalmente bom ou mau.
Isso também vale para o sequestrador. Essas são palavras que as pessoas não gostam de
ouvir de uma vítima de sequestro. Porque os conceitos de bem e mal já estão claramente
definidos, conceitos que as pessoas querem aceitar para não perder o rumo em um mundo
cheio de tons de cinza.
Quando falo sobre isso, posso ver a confusão e o repúdio no rosto de muitas pessoas que
não estavam lá. A empatia que sentem pela minha história se congela e se transforma em