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levava sempre uns bons tapas, e sempre havia algum engraçadinho para sair rebolando atrás
        dele. Eu nunca o olhava nos olhos. Sentia muita vergonha.

          É uma dinâmica estranha. Você tem que pertencer a um grupo, e ser diferente te exclui.
        Hoje, entendo que muita daquela repulsa estava relacionada a um certo grau de atração que
        eu sentia por ele. E aquilo para mim era errado. Os professores nunca tomaram nenhuma

        atitude. Ninguém nunca tomou nenhuma atitude. Escutei trechos de uma conversa da minha
        mãe com a mãe dele em relação à sua sexualidade, mas não consegui entender muito e não

        fui capaz de tocar no assunto. Até hoje não consigo compreender como fui capaz de ter feito
        tudo aquilo. Sei que fui muito covarde. Porque, no fundo, eu sabia pelo que ele estava
        passando. E nunca lhe estendi a mão.

          Quando você se descobre gay — o que faz você se sentir diferente da maioria —, isso faz
        com que, de uma maneira inconsciente, você lute para ser igual. É uma resistência interna,

        uma forma estranha de luta entre o ‘você aparente’ e o ‘você real’. Eu tinha aversão ao meu
        corpo, a toda e qualquer coisa relacionada à sexualidade. Qualquer programa de TV, livro ou
        texto que se referisse à sexualidade me causava pânico. Eu não passei pela fase comum aos

        adolescentes, na qual a masturbação é uma atividade comum. Eu sentia medo, pois era
        nessas ocasiões que eu tinha a certeza de que realmente era homossexual.

          Não é somente seu ciclo social que é quebrado através da fase de reclusão. Dentro de você
        é como se o fator sexualidade também fosse rejeitado. Sexo assusta. O que não se aceita é
        melhor que fique escondido. Acho que senti repulsa por João ao perceber que alguém tinha

        uma aceitação maior consigo mesmo do que a que eu tinha para comigo. Eu conseguia
        reprimir, então era difícil aceitar que aquela pessoa não conseguisse.

          Eu nunca o defendi. Tinha medo de que toda aquela repulsa se voltasse contra mim. João
        saiu  da  escola  e  da  cidade  no  final  do  primeiro  ano  do  ensino  médio.  Mudou-se  para
        Uberlândia  (MG).  Nesse  meio  tempo,  acho  que  até  mesmo  por  um  grande  peso  na

        consciência, foi a minha vez de me afastar. Tranqueime no quarto e não queria sair de lá.”


        Pedro se esconde — até de si mesmo



        “No segundo ano do ensino médio, minha consciência da orientação sexual atingiu seu ápice.
        Eu  não  conseguia mais  me  esconder muito  e  tinha  muito  medo da  reação das  pessoas.

        Forçava-me  a  pensar  somente  em  meninas,  mas  já  não  conseguia  mais  fazer  isso.  As
        Playboys, compradas escondidas pelos amigos, não me interessavam nem um pouco. Eu me
        excitava justamente pensando na excitação dos meus amigos diante daquelas imagens.

          Foi uma fase muito difícil. Eu inventava um monte de histórias para não ir ao colégio, me
        afastei de tudo e de todos. Minha vontade era ficar trancado no quarto para que ninguém

        pudesse me ver. Acho que, no fundo, eu estava me punindo pelo meu comportamento
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