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Há pouco perdi um de meus melhores amigos e sei que seu assassinato ficará impune.
Estamos no Brasil e não vai ser a primeira vez que um crime ficará impune. Pior ainda se são
crimes de homofobia ou crimes que a nossa homofobia internalizada não permite que sejam
investigados.
Uma vez eu fui vítima de um golpe conhecido como ‘Boa Noite Cinderela’. Apesar de todos
os protestos de que não deveria fazer um B.O. (boletim de ocorrência), fui até uma delegacia.
E lá realmente desisti de fazer o B.O., porque nunca tinha sido tão humilhado. O policial que
me atendeu teve uma crise de riso enquanto eu relatava o caso. Aposto que não seria essa
a reação caso o evento tivesse ocorrido com um macho alfa. Eu desisti de denunciar, voltei
para casa e me senti a pessoa mais impotente do mundo.
Em outra oportunidade, vi um grupo de adolescentes na saída de uma festa GLS agredindo
um garoto que aparentava estar muito bêbado. Novamente, apesar dos protestos de um
namorado da época, interferi e acabei me dando muito mal. Apanhei um pouco, pois nem
tenho porte físico para enfrentamentos e, quando a polícia chegou, os três adolescentes
foram protegidos, e eu quase fui parar na delegacia. Segundo os policiais, eu estava gerando
desordem.
Já perdi a conta de quantos amigos, em Goiânia ou em Uberlândia, já sofreram agressões
na rua por serem gays. Ao tentar denunciá-las, as vítimas foram ridicularizadas, e os
agressores liberados. Eu não tenho mais coragem de procurar a polícia para denunciar
qualquer forma de preconceito. Vivemos no nosso mundinho, disfarçados. Vivemos num
‘gayto’.”
Pedro aproxima-se dos pais — que não sabem (ou fingem não saber) que é
“Distanciei-me dos meus pais há muito tempo. E continuei cada vez mais distante. Morando
há três anos e meio em Goiânia, eles nunca tinham vindo me visitar. Neste final de ano, pela
primeira vez, eu convideios a passar o Natal na minha casa. E eles vieram. Acho que minha
pequena atitude abriu uma brecha para novamente possuir uma família, possuir um colo de
mãe.
Não que meu Natal tenha sido maravilhoso. Na verdade, foi cheio de conflitos. Eu e minha
mãe nos desconhecemos por completo. Eu e meu pai nem nos falamos, e então surgem
diversas divergências. Eles chegaram no dia 23 de dezembro, à noite, e foram embora no dia
25, pela manhã.
Na tarde de Natal, descobri uma cartinha que minha mãe tinha deixado sobre o sofá.
Transcrevo aqui um trecho: ‘O que mais queremos é a sua realização em todos os sentidos,
pois, de qualquer forma, você é nosso único tesouro e não queremos continuar dessa forma.
Infelizmente, precisamos te conhecer melhor. E saiba: seja qual for a circunstância,