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ter gozo ilimitado. Qualquer imprevisto nesse percurso deve ser apagado, custe o que custar,
        para não virar trauma — e, assim, comprometer o futuro do filho, que deve passar pela vida

        sem ser marcado pela vida. Deve fazer marca na história, mas não ser marcado por ela. Neste
        cálculo,  não  são  admitidos  erros,  covardias,  irresponsabilidades,  deslizes,  excessos...
        máculas.

          Na biografia futura de Thor Batista, que, como seu pai já disse, espera-se que supere a sua
        em  feitos,  as  máculas  devem  ser  apagadas.  Se  existirem  máculas,  é  necessário  “ligar  o

        dispositivo de administração de crise” — e eliminá-las da linha do tempo. Se alguém errou,
        foi sempre o outro. Para ter certeza disso não é preciso nem apurar os fatos: o filho de um
        superpai é automática e previamente inocente. E não acho que essa mentalidade pertence

        apenas aos mais ricos, apenas que eles têm recursos para garantir essa inocência — e os
        mais pobres, raramente.

          É legítimo fazer algumas perguntas — que podem ser propostas tanto para Eike Batista
        como para nós mesmos. Se seu filho já atropelou uma pessoa, será que o melhor é emprestar
        a ele um dos carros mais velozes do mundo? Se seu filho tem 11 multas e 51 pontos na

        carteira de habilitação, será que você deveria permitir que ele dirigisse o seu carro, mesmo
        que o Detran não tenha cumprido seu dever e suspendido a licença? Se seu filho atropelou

        alguém  e  essa  pessoa  morreu,  não  seria  o  caso  de  silenciar  até  que  os  fatos  fossem
        esclarecidos,  ainda  que  fosse  por  respeito  à  enormidade  do  que  é  a  morte  de  um  ser
        humano? O que cada um de nós faria nessa situação? E por quê?

          Acho que é uma situação muito dura para qualquer pai — ou mãe. É duro dizer a um filho
        que ele errou. Em qualquer escala — e muito mais em uma escala dessa envergadura. É

        duríssimo. Mas é necessário. Não é fácil ser pai ou mãe exatamente porque a educação se
        dá  nas  escolhas  difíceis.  Educar  é,  em  grande  parte,  ensinar  aos  filhos  que  eles  são
        responsáveis pelos seus atos, dos mais simples aos mais complexos — e devem responder

        por eles. Mesmo que tudo o que gostaríamos, como pais amorosos, fosse voltar no tempo e
        apagar o passado.

          Penso que um pai ou uma mãe deve se colocar ao lado do filho não para absolvê-lo, mas
        para apoiá-lo enquanto ele assume as consequências de seus atos. Você errou, vai responder
        por seus erros, e eu vou estar ao seu lado. Ou: não sabemos se você errou, então vamos

        aguardar a apuração dos fatos. Se for concluído que você não errou, ótimo, mas mesmo
        assim uma pessoa morreu e é preciso lidar com essa tragédia. Ou: se for concluído que você
        errou, você vai responder pelos seus erros como a lei determina e um cidadão decente deve

        fazer, e eu vou ajudá-lo a seguir em frente apesar e a partir disso, aprendendo com a tragédia
        e não a esquecendo.

          A revolta da opinião pública levou a muitas ironias — entre elas, as com o nome de Thor,
        o deus nórdico do trovão. Eike Batista seria uma versão contemporânea de Odin, o pai de
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