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responsável por seus atos. Um pai — ou um superpai — afirma a inocência do filho e usa
        todos os recursos para convencer a opinião pública dela, mesmo que ele não possa garanti-

        la, já que ninguém ainda pode. Um pai — ou um superpai — usará todos os meios de que
        dispõe  para  impedir  que  o  filho  seja  punido,  mesmo  se  for  provado  que  ele  merece  a
        punição.

          Pelo comportamento público de Eike Batista, me parece que ele acredita com sinceridade
        que esta é a função de um bom pai — ou mesmo de um superpai, já que, pelo que tem

        demonstrado  em  sua  trajetória  de  vida,  ele  não  aceitaria  nada  menos  do  que  ser  um
        supertudo. No Twitter, ele assim definiu seu desempenho: “Vou defender como um Leão!
        Tenho certeza que todo Pai que ama seu Filho faria o mesmo!”. É interessante observar as

        palavras escolhidas por ele para colocar em maiúsculas.
          O cotidiano mostra que Eike Batista está longe de estar sozinho em sua crença sobre a

        educação de um filho — e a postura de um pai. Tenho certeza de que muitos leitores aqui
        compartilham da visão de Eike sobre a paternidade e acham sua defesa e suas ações dignas
        dos maiores elogios — e fariam o mesmo pelos seus filhos se tivessem a infelicidade de se

        encontrar em situação semelhante. Esses mesmos leitores afirmariam que isso é prova de
        amor verdadeiro — que só um superpai pode dar.

           Será?
          Tenho dúvidas. E me arrisco a discordar não só como mãe, mas como cidadã que tem de
        conviver  com  os  filhos  desses  pais  em  todas  as  esferas  da  sociedade.  Já  havia  me

        surpreendido com a atitude da mãe do menino que, em fevereiro, atropelou e matou com
        um jet ski Grazielly Lames, de três anos, que construía castelos de areia na praia de Bertioga,

        no litoral paulista. Segundo o advogado da família, o adolescente de 13 anos correu para a
        casa em que estavam hospedados em busca de orientação da mãe. Em vez de voltar e prestar
        socorro, junto com o filho menor de idade, dando o exemplo do que uma pessoa decente

        deve fazer, a mãe preferiu fugir com o garoto. A tese da defesa é a de que o adolescente não
        dirigia o jet ski, “apenas” o ligara. Ou seja, o menino não teria nenhuma responsabilidade e,

        se tudo der certo do ponto de vista do que os pais  desse menino entendem por dar certo,
        seu filho não será responsabilizado pelo fim da vida de uma criança.
          Os  casos  guardam  diferenças.  Mas  também  semelhanças.  Tanto  para  a  mãe  do

        adolescente  do  jet  ski,  quanto  para  o  pai  de  Thor,  a  proteção  de  filhos  que  podem  ser
        responsáveis pelo fim de uma vida parece ser uma preocupação acima de todas as outras.
        Ambos já decretaram previamente a inocência dos respectivos filhos antes que ela fosse

        provada. Pode ser que a inocência seja mesmo provada, em um ou em ambos os casos, mas
        nenhum deles poderia tê-la garantido antes de a investigação ser concluída.

          Vivemos  numa  época  em  que  se  acredita  que,  ao  dar  limite  para  um  filho,  estamos
        comprometendo seu projeto de felicidade. E o que é entendido como felicidade? Ter tudo,
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