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Eike Batista, um superpai?













        Na noite de sábado, Thor Batista, 20 anos, atropelou Wanderson Pereira dos Santos, 30 anos,
        na rodovia Washington Luís, na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Wanderson morreu
        na hora. De imediato, Eike Batista, o homem mais rico do Brasil, passou a defender o filho

        de  todas  as  maneiras  —  e  também  no  microblog  Twitter.  Com  tanta  veemência  que  o
        humorista Tutty Vasques comentou em sua coluna no Estadão: “Não satisfeito com o lugar

        de destaque que ocupa na mídia como o homem mais rico do Brasil, o insaciável Eike Batista
        tem se esforçado um bocado para virar capa de revista como o Pai do Ano em 2012”. A
        observação é aguda, como costuma ser o humor de qualidade. E é algo que vale a pena

        pensar: ao defender o filho com os melhores advogados, com assessores de imprensa e com
        seu próprio discurso público, Eike Batista é mesmo um superpai? O que se espera hoje de

        um pai, afinal?
          Ainda que a maioria tenha acompanhado o noticiário, é importante recordar os principais
        capítulos e seus protagonistas, antes de seguirmos adiante. Assim como é importante fazer

        algumas perguntas óbvias sobre a investigação.
          Thor é o mais próximo de um príncipe herdeiro que o Brasil atual pode ter: filho do homem

        mais rico do Brasil e da eterna musa do Carnaval. Como disse Eike Batista (@eikebatista) no
        Twitter: “A mídia e todos vão já já perceber que o Rio tem um Príncipe Harry! O Thor”.
        Wanderson era ajudante de caminhoneiro e filho de criação de Maria Vicentina Pereira. Thor

        foi batizado com o nome de um deus nórdico. Ninguém se preocupou em perguntar qual é
        a origem do nome de Wanderson na mitologia familiar, mas com certeza existe uma história,

        sempre existe. Thor dirigia um Mercedes SLR McLaren, o mesmo que costumava ser exibido
        como obra de arte na sala da mansão de sua família. Wanderson, uma bicicleta. Na BR-040,
        Thor e Wanderson encontraram-se não apenas como dois brasileiros, mas como dois Brasis

        que raramente se encontrariam de outro modo.
          A vontade de condenar Thor, em um país tão desigual como o nosso, sempre pródigo em

        presentear os mais ricos com a impunidade, é imediata. É necessário, porém, resistir a ela.
        Ninguém pode ser condenado sem julgamento, sob hipótese alguma. Da mesma forma,
        pelos mesmos critérios e também pela sobriedade que a morte de uma pessoa exige, Eike

        Batista deveria ter resistido a condenar Wanderson.
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