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apenas histeria ou irresponsabilidade das “massas”, ou mesmo “inveja”, como chegou a ser
dito, mas a ansiedade de fazer uma justiça que temem, com todas as razões históricas e
objetivas para isso, que não seja feita por quem tem o dever constitucional de fazêla. Seria,
nesse sentido, uma espécie de antecipação e compensação pela justiça que não acreditam
que aconteça. E aqui me limito a analisar o fenômeno — e não a defendê-lo.
Quem é Thor, o filho de Eike Batista? Seu perfil é fascinante e quase obrigatório para
compreender o Brasil atual. Basta procurar no Google para encontrar pelo menos uma
matéria exemplar sobre sua vida, seus hábitos e seus pensamentos. Aqui, vou me deter
apenas em quem é Thor como motorista. Em seu prontuário no Detran constam 51 pontos
e 11 multas, parte delas causada por excesso de velocidade. Thor deveria ter perdido a
carteira de habilitação por isso, mas não a perdeu. Se a tivesse perdido, como determina a
lei, talvez não estivesse dirigindo na noite daquele sábado, e Wanderson possivelmente não
estaria morto. Thor ama carros, velocidade e potência. Como declarou em uma entrevista
anterior ao acidente, ele já teve um Aston Martin: “Trouxe de São Paulo e fiz 280 quilômetros
por hora na Dutra”.
Segundo o colunista Ancelmo Gois, do jornal O Globo, em 27 de maio de 2011, a bordo de
um Audi placa EBX-0001, Thor atropelou um homem de 86 anos, também em uma bicicleta,
na Barra da Tijuca, no Rio. Thor prestou socorro, e sua família pagou todas as despesas
médicas. A vítima fraturou o acetábulo (parte da bacia onde a cabeça do fêmur se encaixa)
e teve de colocar duas placas e cinco parafusos, além de se submeter a fisioterapia, a
hidroterapia e a sessões com psicólogo para superar o trauma. Em entrevista à coluna de
Ancelmo Gois, um dos filhos da vítima afirmou não ter registrado queixa nem pedido
indenização: “Estávamos preocupados em salvar nosso pai, que também não queria
confusão”.
No dia seguinte à publicação, a vítima, José Griner, hoje com 87 anos, manifestou-se
através de uma nota na qual afirma que nem ele nem Thor tiveram culpa: “Houve uma
colisão que envolveu a lateral do carro dele e a roda dianteira da minha bicicleta”. Disse mais:
“Ele agiu com lisura e deu suporte à minha recuperação”. Que tudo isso nos faz pensar na
excelência do “gerenciamento de crise”, faz. Mas o que podemos afirmar é que, em menos
de um ano, Thor exibe uma estatística incomum como motorista: atropelou dois ciclistas.
Um sobreviveu, o outro não.
Qual é o papel de um pai em um momento crucial como este? Não há resposta fácil para
isso, mas há muitas perguntas que podem ser feitas. E essas perguntas são pertinentes
porque a defesa imediata e veemente que Eike Batista fez publicamente do filho ilustram
bem o que hoje se acredita ser o papel de um pai.
Um pai — ou um superpai — seria aquele que defende o filho contra tudo e contra todos,
tenha ele ou não razão — e mesmo que ele já tenha 20 anos e seja moral e legalmente