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No momento em que a imagem de Lula apertando a mão de Maluf foi imortalizada com
        um clique, Luiza Erundina estava lá naquela foto. Não estava, mas estava, porque havia

        aceitado a aliança com o PP de Maluf. Embora dizendo-se “desconfortável” com a aliança
        em declarações anteriores à fotografia, ela sabia da aliança e aceitou a possibilidade da
        aliança no momento em que aceitou ser a vice de Haddad.

          Logo, Luiza Erundina não desistiu de ser vice por uma questão de princípios, mas por uma
        questão de imagem. Ou pelo fato de a foto desmascarar a falta de princípios que ela conhecia

        e aceitara. Ou ainda, porque a foto tornou mais real a realidade.
          O problema, para Luiza Erundina, não era a aliança com Maluf, essa ela podia aceitar. Como
        não foi um problema para ela aceitar, em 2004, a aliança com Orestes Quércia (PMDB) —

        que não chegava a ser um Maluf, mas estava longe de ter boa fama. O problema, para
        Erundina, era exibir a aliança com Maluf numa foto estampada na capa dos jornais. E passar

        a correr o risco — altíssimo — de aparecer, também fisicamente, em uma próxima foto.
        Nesse sentido, ainda que apenas por erro de cálculo, Lula foi mais coerente do que Erundina.
        Fez a aliança e permitiu a representação da aliança — pagou o preço cobrado por Maluf,

        que, além de mais um cargo obtido no governo de Dilma para o PP, exigiu também uma
        imagem.

         Antes da foto, mas já com as negociações bem adiantadas, Erundina tinha se declarado
        “desconfortável”  com  a  presença  quase  certa  de  Maluf  na  campanha.  Apenas
        “desconfortável”. Ela disse:

        “Para mim não será confortável estar no mesmo palanque com o Maluf. A campanha não
        sou eu nem

        Maluf individualmente. É um processo muito mais amplo e complexo, e isso se dilui, ao meu
        ver. (Mas) Claro que é desconfortável”. Após a publicação da foto, mas ainda antes de tomar
        a decisão de desistir da candidatura, ela fez uma declaração especialmente reveladora: “A

        foto provocou repulsa, uma reação em cadeia. Fui bombardeada nas redes sociais”. Depois
        de deixar a chapa, porque a imagem não se “diluiu” como o esperado, Erundina afirmou:

        “Quando a gente faz uma coisa que corresponde ao anseio da sociedade, a gente fica feliz”.
          É claro que as pessoas podem mudar de ideia. É também desejável que voltem atrás, ao
        perceber que fizeram uma escolha errada. É preciso enxergar, porém, que Erundina teve

        bastante tempo para pensar nos seus princípios antes da foto, mas já com a aliança com
        Maluf  bem  delineada  no  horizonte.  Portanto,  é  legítimo  duvidar  de  que  seu  recuo  seja
        justificado pelos princípios. Ela assume isso em várias declarações, especialmente nesta, sem

        parecer enxergar a contradição: “O tempo de TV é importante, mas não a ponto de sacrificar
        a imagem”.

          Foi para não sacrificar sua imagem (e não seus princípios, como a repercussão de sua
        decisão fez parecer) que ela desistiu de ser vice. Por estar fisicamente ausente da imagem
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