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2004 à prefeitura paulistana. Na época, Kombis decoradas com imagens de Maluf e Marta
circulavam afoitas por São Paulo. Quem lembra? A própria Marta, a julgar por suas
manifestações sobre a foto Lula-Maluf, parece ter esquecido.
Seria uma boa notícia se alguém estivesse sofrendo de fato por ter vomitado nos
princípios. Mas nenhum dos envolvidos no episódio parece estar preocupado com princípios.
Nem Lula e Haddad, que apertaram a mão de Maluf e posaram para a foto. Nem Erundina,
que estava na foto sem estar, mas por causa da reação a ela desistiu de compactuar com o
que já tinha compactuado. Muito menos José Serra, que adoraria estar no lugar de Lula e de
Haddad, mas fingiu reprovar o vale tudo.
E nós? Nós precisamos enxergar além do que nos é dado para ver — e enxergar mesmo
quando não há imagem. Ou tudo será permitido desde que ninguém veja, tudo continuará
valendo a pena por um minuto e meio a mais de TV. O quanto realmente enxergamos o que
estava — e o que não estava — na foto histórica, só saberemos mais adiante.
Em 1988, diante da euforia e dos sonhos trazidos pela redemocratização do Brasil, depois
de duas décadas de ditadura militar, havia dois cenários possíveis para o futuro. Boa parte
de nós só enxergava um, só acreditava em um, só admitia um. Nele, a menina perguntaria
ao ver o ladrão roubando a sua casa: “Mãe, esse que é o Maluf?”. E a mãe responderia: “Não,
esse ladrão não é o Maluf porque o Maluf está preso”.
Naquele tempo, nenhum de nós — e acredito que nem mesmo Lula — poderia imaginar
que o único diálogo possível no futuro seria este:
— Mãe, esse que é o Maluf?
— Não, o Maluf está ocupado, na casa dele, apertando a mão do Lula.
* * *
Revoltemo-nos. Mas sem esquecer que também estamos naquela foto. Sem eleitores
como nós, ela não seria possível.
25 de junho de 2012