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debaixo do sol, ele se torna algo novo. Especialmente porque tem a inteligência de não
escorregar para o lado oposto — o do glamour —, o que seria desastroso.
Para Chester, transar com prostitutas é tão comezinho quanto namorar, morar junto ou
casar. Como um homem da era digital, ele escolhe as mulheres pelos anúncios e avalia as
“resenhas” deixadas por outros clientes em sites na internet. Paga o preço combinado e
respeita os limites estipulados, porque é uma pessoa decente, e dá gorjetas até quando não
gosta muito, porque talvez seja bom moço demais.
Por conta da reação persistente e quase ofendida que sua escolha causou, Chester acabou
por tornar-se um defensor público da legalidade da prostituição — ainda proibida em vários
países, mesmo ocidentais. Embora defenda a legalização da prostituição, porém, é contra a
regulamentação da profissão, por considerar que o Estado deve ficar fora da cama dos
cidadãos — qualquer que seja a relação estabelecida entre as partes. É contra também por
acreditar que, a partir da regulamentação, se criaria uma nova distinção entre as prostitutas,
que deixaria as não regulamentadas desprotegidas.
Mas Chester é, principalmente, um defensor da “normalidade” do sexo pago. Em nome
dessa militância, ele faz um longo apêndice ao final do livro, dividido em 23 itens — o mesmo
número de prostitutas com quem teve relações sexuais. Em cada um deles rebate os
argumentos contrários à prostituição, que chama de “namoro pago”. Em geral, o que rebate
são os argumentos usados por uma parcela do movimento feminista, que coloca a
prostituição como uma exploração da mulher — e a prostituta como vítima.
A seguir, alguns dos itens elencados por Chester Brown:
1) Você é dono do seu corpo. Dizer “Quero transar com você porque você vai me dar dinheiro”
é tão moral quanto dizer “Quero transar com você porque eu o amo”. E isso tanto para
homens quanto para mulheres.
2) Os clientes não compram as prostitutas. Quando alguém compra um livro, leva-o para casa e
faz o que quiser com ele, por quanto tempo quiser. Com uma prostituta, você paga para
transar durante um tempo determinado, limitado por aquilo que é combinado, e depois se
separa dela. Nenhum cliente faz o que quiser com uma prostituta — nem é dono dela.
3) A violência, minoritária, é tão presente no sexo pago como no sexo não pago. Existem clientes cretinos
na mesma proporção que existem maridos e namorados cretinos, que ignoram os pedidos e
os limites estabelecidos pelas mulheres. Assim como há aqueles que extrapolam e as
espancam. Para reprimir esse comportamento, há leis. Mas, se concluirmos que devemos
criminalizar ou condenar o sexo pago porque alguns homens são cretinos e outros são
violentos, então é preciso criminalizar ou condenar também o casamento e o sexo não pago.
Da mesma forma, com relação ao tipo de trabalho, qualquer um acharia descabido terminar
com a profissão de taxista porque alguns são assaltados, feridos e até mortos por assaltantes
travestidos de clientes.