Page 255 - C:\Users\Leal Promoções\Desktop\books\robertjoin@gmail.com\thzb\mzoq
P. 255
4) Não são apenas as prostitutas que muitas vezes transam sem desejo. Muitas pessoas, em
relacionamentos amorosos, também transam sem vontade. A frase “Não quero transar com
esse cara, mas vou transar porque preciso de dinheiro” é tão moral quanto “Não quero
transar agora, mas vou transar porque ele é meu namorado e eu o amo” ou “Não sinto mais
desejo pelo meu marido, mas vou transar pelo bem do nosso casamento”.
5) A prostituição não destrói a dignidade das prostitutas. A vergonha que algumas prostitutas sentem
por conta da profissão é provocada pela interiorização do preconceito enfrentado na
sociedade — e não pela venda do sexo em si. Assim como no passado (e ainda hoje, em
alguns casos) os homossexuais sentiam vergonha, depressão, culpa e repulsa por sua
orientação sexual. Isso não significava que ser gay era errado — e sim que muitos
homossexuais interiorizavam os valores da cultura em que viviam, assumindo o preconceito
da sociedade como vergonha e como culpa.
6) A diferença com que a sociedade trata a prostituição masculina mostra que o preconceito, como sempre, é
comrelação à autonomia das mulheres. Em geral, os adversários da prostituição feminina ignoram a
masculina. A razão é que os argumentos usados para condenar a prostituição feminina
soariam ridículos se aplicados à masculina. Nossa cultura acredita que os homens controlam
a própria sexualidade. E, se um homem se coloca em uma situação potencialmente arriscada,
a sociedade compreende como um comportamento inerente à natureza masculina. Já, com
relação às mulheres, não. Elas são sempre vítimas, e há sempre alguém — mesmo que outras
mulheres — apto a determinar o que é melhor para elas.
7) A prostituição é uma escolha. Setores contrários à prostituição afirmam que não há escolha
real se a mulher tem de eleger entre ganhar um salário baixo em um emprego pouco
valorizado ou se prostituir, assim como não haveria escolha se a mulher se prostitui
supostamente porque foi abusada na infância, caso de parte das prostitutas (como de parte
das mulheres). Mas uma escolha é uma escolha, ainda que seja uma escolha difícil. Dizer que
adultos não teriam o direito de escolha porque tiveram uma infância difícil é um terreno
perigoso. Essas mulheres, impedidas de escolher o sexo pago, não estariam, então, aptas a
fazer qualquer escolha sexual, mesmo amorosa, por causa do seu passado. Da mesma forma
que a realidade impõe escolhas difíceis para ganhar a vida o tempo todo, tanto para homens
como para mulheres. E do mesmo modo como há quem gosta do que faz e há quem não
gosta em qualquer profissão.
Todas as pessoas — e não só as prostitutas — são frutos de suas circunstâncias e do sentido
que conseguiram dar ao vivido. Alguém tem o direito de determinar quais adultos estão
aptos e quais não estão aptos a fazer escolhas sobre a própria vida, ainda que sejam escolhas
que não agradem aos outros?
Estes são alguns dos argumentos que Chester Brown propõe ao leitor, construídos a partir
de pesquisa e leituras, mas principalmente a partir da sua própria experiência no mundo do