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4)   Não  são  apenas  as  prostitutas  que  muitas  vezes  transam  sem  desejo.  Muitas  pessoas,  em
        relacionamentos amorosos, também transam sem vontade. A frase “Não quero transar com

        esse cara, mas vou transar porque preciso de dinheiro” é tão moral quanto “Não quero
        transar agora, mas vou transar porque ele é meu namorado e eu o amo” ou “Não sinto mais
        desejo pelo meu marido, mas vou transar pelo bem do nosso casamento”.

           5)   A prostituição não destrói a dignidade das prostitutas. A vergonha que algumas prostitutas sentem
        por  conta  da  profissão  é  provocada  pela  interiorização  do  preconceito  enfrentado  na

        sociedade — e não pela venda do sexo em si. Assim como no passado (e ainda hoje, em
        alguns  casos)  os  homossexuais  sentiam  vergonha,  depressão,  culpa  e  repulsa  por  sua
        orientação  sexual.  Isso  não  significava  que  ser  gay  era  errado  —  e  sim  que  muitos

        homossexuais interiorizavam os valores da cultura em que viviam, assumindo o preconceito
        da sociedade como vergonha e como culpa.
           6)   A diferença com que a sociedade trata a prostituição masculina mostra que o preconceito, como sempre, é
        comrelação à autonomia das mulheres. Em geral, os adversários da prostituição feminina ignoram a

        masculina.  A  razão  é  que  os  argumentos  usados  para  condenar  a  prostituição  feminina
        soariam ridículos se aplicados à masculina. Nossa cultura acredita que os homens controlam
        a própria sexualidade. E, se um homem se coloca em uma situação potencialmente arriscada,

        a sociedade compreende como um comportamento inerente à natureza masculina. Já, com
        relação às mulheres, não. Elas são sempre vítimas, e há sempre alguém — mesmo que outras

        mulheres — apto a determinar o que é melhor para elas.
           7)   A prostituição é uma escolha. Setores contrários à prostituição afirmam que não há escolha
        real  se  a  mulher  tem  de  eleger  entre  ganhar  um  salário  baixo  em  um  emprego  pouco

        valorizado  ou  se  prostituir,  assim  como  não  haveria  escolha  se  a  mulher  se  prostitui
        supostamente porque foi abusada na infância, caso de parte das prostitutas (como de parte

        das mulheres). Mas uma escolha é uma escolha, ainda que seja uma escolha difícil. Dizer que
        adultos não teriam o direito de escolha porque tiveram uma infância difícil é um terreno
        perigoso. Essas mulheres, impedidas de escolher o sexo pago, não estariam, então, aptas a

        fazer qualquer escolha sexual, mesmo amorosa, por causa do seu passado. Da mesma forma
        que a realidade impõe escolhas difíceis para ganhar a vida o tempo todo, tanto para homens

        como para mulheres. E do mesmo modo como há quem gosta do que faz e há quem não
        gosta em qualquer profissão.
        Todas as pessoas — e não só as prostitutas — são frutos de suas circunstâncias e do sentido

        que conseguiram dar ao vivido. Alguém tem o direito de determinar quais adultos estão
        aptos e quais não estão aptos a fazer escolhas sobre a própria vida, ainda que sejam escolhas

        que não agradem aos outros?
          Estes são alguns dos argumentos que Chester Brown propõe ao leitor, construídos a partir
        de pesquisa e leituras, mas principalmente a partir da sua própria experiência no mundo do
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