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fatídica, Luiza Erundina produziu uma outra imagem simbólica que lhe interessa muito mais.
        Seria  melhor  para  Erundina,  para  nós  e  para  a  democracia  se  ela  ficasse  feliz  não  por

        corresponder aos anseios da sociedade, mas por corresponder aos princípios éticos que
        norteiam a sua vida, mesmo que estes a levassem, eventualmente, a contrariar a opinião
        pública.

          Vale a pena enxergar também que a postura de Luiza Erundina nesse episódio mostrou, de
        novo, que Lula e o PT estão certos ao acreditarem que um minuto e meio a mais de exposição

        planejada, produzida e controlada na TV seja decisivo para a candidatura de Haddad. A
        decisão de Erundina, tomada só após a foto, prova que, para ela e para muitos, é a imagem
        que vale, não a realidade. Ou é a imagem que torna real a realidade. Se a aliança estivesse

        consolidada — mas sem uma imagem para representá-la —, será que Erundina desistiria de
        ser vice? Ela mesma já respondeu: “Eu até entenderia se fosse um ato firmado dentro de um

        espaço institucional, entre diretórios, mas não dessa forma personalista”.
          Para completar a foto, há ainda o PSDB, o oponente sem oposição de fato no que diz
        respeito à imagem-bomba. A declaração de José Serra ao comentar a aliança entre Lula e

        Maluf foi a seguinte: “O PSDB tem um tempo suficiente de televisão. Não vale tudo para
        aumentar isso”. E a de Aécio Neves: “Isso não muda o resultado eleitoral, mas fragiliza o

        discurso de faxina do governo. No momento em que o governo federal se dispõe a fazer esse
        tipo de concessão, em troca de apoio político, essa discussão da faxina fica muito frágil”.
        Aécio ainda disse que a troca de apoio político por espaço na campanha de rádio e de TV não

        deveria virar regra no país.
           Seria  um  discurso  alentador,  não  tivéssemos  acompanhado  os  enormes  esforços

           empreendidos pelo
        PSDB para conquistar o apoio de Maluf. Seria um discurso estimulante, não fosse uma outra
        foto mostrar Serra apertando a mão do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento

        (PR), afastado por Dilma por suspeita de corrupção. Valdemar Costa Neto, um dos réus no
        processo do “mensalão”, não está na foto, mas foi um dos arquitetos da aliança do PSDB

        com o PR na disputa da prefeitura paulistana. Ou seja, Valdemar Costa Neto, outra figura
        que  não  fica  bem  na  foto,  estava  sem  estar.  De  novo,  o  jogo  de  esconde-esconde  das
        imagens.

          Ao buscar um minuto e meio a mais de imagem, Lula afobou-se e esqueceu-se, por um
        momento, da natureza perigosa do que foi buscar. Mas deve contar com a possibilidade de
        a imagem sinistra ser esquecida — ou substituída por outras, produzidas pelos marqueteiros

        ao longo da campanha. Se é imagem o que vale, e não os princípios, agora há um minuto e
        meio  a  mais  de  TV  para  reverter  o  prejuízo  e  convertê-lo  em  lucro,  ao  transformar  o

        espetáculo na única realidade que importa. Afinal, com o próprio Maluf há um precedente
        do PT em São Paulo: Marta Suplicy foi apoiada por ele no segundo turno da campanha de
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