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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
(c) a situação (formal ou informal) em que se encontra.
O Brasil, em decorrência do processo de povoamento e colonização a que foi submetido
bem como das condições em que se deu sua independência política e seu posterior
desenvolvimento, apresenta grandes contrastes regionais e sociais, estes últimos perceptíveis
mesmo em grandes centros urbanos, em cuja periferia se concentram comunidades mantidas
à margem do progresso.
Um retrato fiel, atual, de nosso país teria de colocar lado a lado: executivos de grandes
empresas; técnicos que manipulam, com desenvoltura, o computador; operários de
pequenas, médias e grandes indústrias; vaqueiros isolados em latifúndios; cortadores de
cana; pescadores artesanais; plantadores de mandioca em humildes roças; pombeiros que
comerciam pelo sertão; indígenas aculturados.
Detentores de antigos costumes portugueses aqui reelaborados pelo contato com
outra terra e outras gentes ou, já em acelerado processo de mestiçagem étnica e
linguística, esquecidos das origens, esses homens e mulheres guardam, na sua forma de
expressão oral, as marcas de nossa identidade linguístico-cultural e a resposta a muitas
indagações e a diversas hipóteses sobre a história e o estado atual do português do
Brasil.
(BRANDÃO, 1991, p. 5-17, Adaptação.)
A unidade temática do texto de Brandão é desenvolvida na ideia de que a língua é flexível e se altera
devido a situações deparadas pelo falante. O falante é usuário da língua e seu agente modificador,
contribuindo com as transformações da língua.
O falante faz parte de um grupo, o qual, por sua vez, é marcado por fatos históricos. Tais fatos
determinam a identidade linguístico-cultural do grupo, incluindo a nossa língua em seu estado atual.
Esse tema progride no decorrer do texto e verificamos que, ainda de acordo com Antunes (2010,
106-107):
(a) A progressão do tema se dá a partir da referência à função do uso
da língua: um meio de o homem expressar suas ideias, as ideias
de sua geração, as ideias da comunidade a que pertence, as ideias
de seu tempo. Essa afirmação serve de gancho para a introdução
de um tópico que vai dominar toda a exposição: o falante usa a
língua conforme as particularidades culturais de seu grupo, que, Revisão: Leandro - Diagramação: Léo - 14/07/2011
assim, transparecem em sua fala, como “índices” de identificação
dos sujeitos e dos grupos.
(b) Dessa vinculação da língua a suas circunstâncias de uso resulta a
heterogeneidade desses usos (Cada falante é, a um tempo, usuário e
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