Page 91 - A Magia da Excelencia - Rodrigo Maruxo
P. 91
sentido ali mesmo para o que eu imaginava só ser possível
encontrar fora...
Mas não admiti, claro! Menino orgulhoso e imaturo, dei de
ombros, retrucando:
- Mas é muito diferente, né?! Não tem nada a ver isso aí que
você está falando com esse povo daqui... eles são muito malas e se
acham superiores a nós. Estes doentes daqui não têm cura não,
amigão!
O rapaz apenas suspirou fundo, deu um sorriso amarelo e
voltamos ao trabalho. Mas por mais que eu não tivesse admitido pra
ele, a semente havia sido plantada: ele tinha mexido profundamente
comigo. Mexeu tanto que nem fui para o trabalho voluntário no
sábado. Passei o final de semana só pensando, pensando... e
quando tocou a música do Fantástico na TV, eu havia decidido: sim,
eu faria daquele lugar o meu hospital. Meus doentes, os usuários. E
para todos eles, além de levar o “remédio” do suporte técnico,
tentaria levar alguma coisa boa de mim, que os deixassem melhores
emocionalmente do que antes de terem me visto, do jeitinho que
seria na ONG! Começaria, a partir da próxima segunda-feira, a viver
ali naquela empresa o meu propósito de vida, que até então estava
começando a se definir no “ajudar as pessoas”, tornando vida
pessoal e profissional uma coisa só do ponto de vista do
cumprimento da minha missão nesse mundo.
Após esse final de semana de profunda reflexão, cheguei na
empresa muito diferente. Estava animado. Dei um bom dia pra toda
galera, o que os deixou compreensivelmente perplexos. Fez-se um
silêncio constrangedor na sala e poucos responderam. Eles não
estavam acostumados com isso. Eu cheguei para a moça que
imprimia as listas de chamados e quis saber como tinha sido o fim
de semana dela. Fiz umas piadas, peguei a lista e disse: “Opa! Hoje
temos muitos pacientes pra atender, hein?!”. Ela não entendeu
absolutamente nada, mas o rapaz que havia feito eu pensar na
última sexta estava ali e sorriu satisfeito pra mim, acenando com a
cabeça em aprovação. O menino aqui tinha entendido a lição... E
ele ficou feliz por mim. Peguei a lista e fui saindo, todo empolgado.
Quando eu chegava próximo à porta, ouvi a moça da lista comentar
com a colega do lado: