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banquete, os dois irmãos relaxavam no jardim de inverno, conversando sobre o mais recente objeto de
fascínio de Katherine: um novo campo de estudos chamado ciência noética.
Fusão improvável de física de partículas moderna com misticismo antigo, a noética tinha conquistado
totalmente a imaginação de Katherine.
O encontro entre a física e a filosofia.
Katherine contou a Peter sobre alguns dos experimentos que sonhava em fazer, e pôde notar
nos olhos cinzentos do irmão que aquilo o intrigava. Estava particularmente feliz por poder proporcionar
a ele algo positivo em que pensar naquele Natal, uma vez que o feriado também se transformara num
doloroso lembrete de uma terrível tragédia.
O filho de Peter, Zachary.
O 21º aniversário do sobrinho de Katherine fora o último. A família tinha vivido um pesadelo, e
parecia-lhe que o irmão só agora estava reaprendendo a sorrir.
Menino frágil e desengonçado, Zachary tinha se desenvolvido tarde, transformando-se em um
adolescente rebelde e zangado. Apesar de criado com muito amor em um ambiente de privilégios, o
rapaz parecia decidido a romper com o “sistema” da família Solomon. Foi expulso da escola de ensino
médio, vivia na farra com os ricos e famosos e desdenhava as tentativas inesgotáveis dos pais de
orientá-lo de maneira firme, porém carinhosa.
Ele partiu o coração de Peter.
Pouco antes do 18º aniversário de Zachary, Katherine havia se reunido com a mãe e o irmão e
ouvira a conversa dos dois sobre se deveriam ou não segurar a herança de seu sobrinho até ele ficar
mais maduro. Era uma tradição secular do clã Solomon transferir para todos os filhos que
completassem 18 anos uma fatia extraordinariamente generosa do patrimônio da família. Os Solomon
acreditavam que uma herança era mais útil no início da vida de alguém do que no final. Além disso,
confiar grandes porções da fortuna familiar a jovens descendentes cheios de energia tinha sido
fundamental para aumentar a riqueza da dinastia.
Naquele caso, porém, a mãe de Katherine argumentou que era um perigo entregar ao filho de
Peter uma soma de dinheiro tão grande. Peter discordou.
— A herança dos Solomon — disse ele — é uma tradição de família que não deve ser quebrada.
Esse dinheiro pode muito bem forçar Zachary a ser mais responsável.
Infelizmente, seu irmão estava errado.
Assim que recebeu o dinheiro, Zachary cortou relações com a família e sumiu de casa sem levar
qualquer pertence. Reapareceu meses depois nos tabloides: PLAYBOY MILIONÁRIO CURTE A VIDA
NA EUROPA.
A imprensa sensacionalista se esbaldou documentando a vida luxuosa e desregrada de Zachary.
As fotos de festas de arromba em iates e bebedeiras em boates eram um tormento para os Solomon,
mas os registros de seu adolescente rebelde passaram de vergonhosos a assustadores quando os
jornais informaram que o rapaz tinha sido pego com cocaína na fronteira da Turquia: MILIONÁRIO
SOLOMON PRESO COM DROGAS.
Eles descobriram que a prisão para onde Zachary fora mandado se chamava Soganlik — um
centro de detenção brutal, de última categoria, situado no distrito de Kartal, nos arredores de Istambul.
Temendo pela segurança do filho, Peter Solomon pegou um avião até a Turquia para tentar resgatá-lo.
Muito abalado, voltou sem ter conseguido sequer uma autorização para ver Zachary. A única notícia
promissora era que os influentes contatos de Solomon no Departamento de Estado norte-americano
estavam fazendo todo o possível para conseguir extraditar o rapaz o mais rápido possível.
Contudo, dois dias depois, Peter recebeu um pavoroso telefonema internacional. Na manhã
seguinte, as manchetes anunciavam: HERDEIRO DOS SOLOMON ASSASSINADO NA PRISÃO.
As fotos tiradas no presídio eram medonhas, e a mídia divulgou todas elas sem dó nem piedade,
mesmo muito depois da cerimônia fúnebre particular organizada pelos Solomon. A mulher de Peter
jamais o perdoou por não ter conseguido libertar Zachary, e o casamento dos dois acabou seis meses
depois. Desde então, Peter vivia sozinho.
Levou muitos anos para que Katherine, Peter e sua mãe, Isabel, se reunissem para passar um
Natal tranquilo. A dor ainda era grande, mas felizmente ia diminuindo a cada ano. O agradável ruído de
panelas e frigideiras agora ecoava da cozinha onde Isabel preparava o tradicional banquete. No jardim
de inverno, Peter e Katherine conversavam descontraídos enquanto saboreavam um brie derretido.
Foi então que ouviram um som totalmente inesperado.
— Olá, família Solomon — disse uma voz afetada atrás deles.
Espantados, Katherine e o irmão se viraram e deram de cara com uma imensa figura musculosa
entrando no jardim de inverno. O rosto do homem estava coberto por um gorro de esqui preto, com
exceção dos olhos, que luziam com uma ferocidade animalesca.