Page 106 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 106

tradução do livro do Êxodo. O texto original em hebraico descrevia Moisés como tendo um “karan ‘ohr
          panav”, o que quer dizer que “sua pele do rosto brilhava com raios de luz”. Mas, quando a Igreja católica
          fez a tradução oficial da Bíblia para o latim, o tradutor se confundiu na descrição de Moisés, traduzindo-
          a  como  “cornuta  esset  facies  sua”,  que  significa  “seu  rosto  tinha  chifres”.  A  partir  daí,  artistas  e
          escultores, temendo represálias caso não fossem fiéis aos Evangelhos, começaram a retratar Moisés
          com chifres.
                 — Foi um simples erro — respondeu Langdon. — Uma tradução equivocada de São Jerônimo
          por volta de 400 d.C.
                 Bellamy pareceu impressionado.
                 —  Exato.  Uma tradução  equivocada.  E  o resultado  disso...  é que  o  pobre  Moisés  agora  está
          desfigurado para sempre.
                 “Desfigurado” era bondade dele. Quando criança, Langdon ficara aterrorizado ao ver o diabólico
          “Moisés chifrudo” de Michelangelo — peça central da Basílica de São Pedro Acorrentado, em Roma.
                 —  Estou  mencionando  o  Moisés  chifrudo  —  disse  Bellamy  —  para  ilustrar  como  uma  única
          palavra, quando mal compreendida, é capaz de reescrever a história.
                 O senhor está querendo ensinar o pai-nosso ao vigário, pensou Langdon, que havia aprendido
          essa lição na própria pele em Paris alguns anos antes. SanGreal: Santo Graal. SangReal: Sangue Real.
                 — No caso da Pirâmide Maçônica — prosseguiu Bellamy —, as pessoas ouviram boatos sobre
          uma “legenda”. E a ideia pegou. A história legendária da Pirâmide Maçônica soava como um mito. Mas
          a palavra legenda não se referia a uma lenda, e sim a outra coisa. Houve um erro de interpretação. De
          forma muito parecida com a palavra talismã. — Ele sorriu. — A linguagem pode ser muito boa para
          esconder a verdade.
                 — O senhor tem razão, mas não estou entendendo aonde quer chegar.
                 — Robert, a Pirâmide Maçônica é um mapa. E, como todo mapa, ela tem uma legenda: uma
          chave que ensina como deve ser lida. — Bellamy pegou o embrulho em forma de cubo e o levantou. —
          Não  está  vendo?  O  cume  é  a  legenda  da  pirâmide.  Ele  é  a  chave que  ensina  a  ler  o  artefato  mais
          poderoso da Terra, um mapa que revela onde está escondido o maior tesouro da humanidade: o saber
          perdido de todas as épocas.
                 Langdon se calou.
                 —  Eu  sugiro  humildemente  —  disse  Bellamy  —  que  sua  gigantesca  Pirâmide  Maçônica  não
          passa disto aqui... uma modesta pedra cujo cume de ouro se ergue alto o bastante para ser tocado por
          Deus. Alto o bastante para um homem esclarecido poder estender a mão e tocá-lo.
                 O silêncio pairou entre os dois homens por vários segundos.
                 Então,  Langdon  sentiu  um  arroubo  inesperado de  entusiasmo  ao  fitar  novamente  a  pirâmide,
          vendo-a com novos olhos. Tornou a olhar para a cifra maçônica.
                 — Mas este código... parece tão...
                 — Simples?
                 Langdon assentiu.
                 — Praticamente qualquer um poderia decifrá-lo.
                 Bellamy sorriu e pegou lápis e papel para Langdon.
                 — Então talvez você possa nos esclarecer a questão.
                 Langdon não se sentia à vontade lendo aquele código, mas, levando em conta as circunstâncias,
          aquilo lhe parecia uma traição menor à confiança de Peter. Além do mais, independentemente do que
          dissesse aquela inscrição, ele não podia imaginar que fosse de fato revelar o esconderijo secreto de
          qualquer coisa... quanto mais de um dos maiores tesouros da história.
                 Langdon pegou o lápis que Bellamy lhe estendia e ficou dando batidinhas com ele no queixo
          enquanto estudava a cifra. Era tão fácil que ele nem precisava de lápis e papel. Mesmo assim, queria
          ter  certeza  de  que  não  cometeria  nenhum  erro,  por  isso  levou  obedientemente  o  lápis  ao  papel  e
          escreveu  a  chave  de  leitura  mais  comum  para  uma  cifra  maçônica.  Ela  era  constituída  por  quatro
          grades — duas simples, duas pontilhadas — nas quais as letras do alfabeto se encaixavam na ordem
          correta. Cada letra ficava então posicionada dentro de um “compartimento” ou “baia” de formato único.
          O formato do compartimento de cada letra se tornava o símbolo dessa letra.
                 O esquema era tão simples que quase chegava a ser infantil.

          Observação: descrição dos DESENHOS DO ESQUEMA:

          Esquema 1: (observação: letras colocadas como no “jogo da velha”)
                 A |  B | C
                 ---- |----|----
   101   102   103   104   105   106   107   108   109   110   111