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Katherine manteve os olhos bem fechados, precipitando-se pelo gramado. Quando sentiu que
          estava  suficientemente  longe  do  prédio  e  das  luzes,  abriu  os  olhos,  corrigiu  seu  trajeto  e  seguiu
          correndo feito uma louca no escuro.
                 As chaves de seu Volvo estavam exatamente onde ela sempre as deixava, no console central.
          Ofegante, ela segurou-as com as mãos trêmulas e encontrou a ignição. O motor ganhou vida com um
          rugido e os faróis do carro se acenderam iluminando uma visão aterradora.
                 Uma forma horrenda corria na sua direção.
                 Por alguns segundos, Katherine ficou petrificada.
                 A criatura iluminada por seus faróis era um animal careca e de peito nu, com a pele coberta por
          tatuagens de escamas, símbolos e palavras. Ele berrava enquanto corria em direção ao carro, suas
          mãos erguidas diante do rosto como um animal das cavernas que vê a luz do sol pela primeira vez. Ela
          estendeu a mão para a alavanca de câmbio, mas, num piscar de olhos, ele estava ali, projetando o
          cotovelo contra sua janela lateral e cobrindo seu colo com uma chuva de cacos de vidro.
                 Um imenso braço tatuado penetrou por sua janela, tateando e encontrando seu pescoço. Ela
          engatou a ré, mas o agressor havia agarrado sua garganta e a apertava com uma força inimaginável.
          Ela virou a cabeça para tentar escapar daquela mão e, de repente, se viu encarando o rosto dele. Três
          listras  escuras,  parecendo  unhadas,  haviam  removido  sua  maquiagem  e  revelado  as  tatuagens  do
          rosto. Os olhos eram insanos e implacáveis.
                 — Eu deveria ter matado você 10 anos atrás — rosnou ele. — Na noite em que matei sua mãe.
                 À medida que sua mente registrava aquelas palavras, Katherine foi tomada por uma lembrança
          aterrorizante: aquele olhar de besta-fera... ela já o vira antes. É ele. Não fosse a pressão fortíssima em
          volta de seu pescoço, ela teria soltado um grito.
                 Katherine afundou o pé no acelerador e o carro deu um pinote para trás, quase quebrando seu
          pescoço enquanto o homem era arrastado ao lado do veículo. O Volvo começou a subir um canteiro
          inclinado,  e  ela  pôde  sentir  o  pescoço  prestes  a  ceder  ao  peso  dele.  De  repente,  galhos  de  árvore
          começaram a arranhar a lataria, fustigando as janelas laterais, e o peso sumiu.
                 O carro irrompeu através dos arbustos e emergiu na parte superior do estacionamento, onde
          Katherine pisou com força nos freios. Mais abaixo, o homem seminu se levantava encarando os faróis.
          Com uma calma aterrorizante, ele ergueu um braço ameaçador e apontou diretamente para ela.
                 O sangue de Katherine chispou por suas veias, cheio de medo e raiva, enquanto ela girava o
          volante  e  pisava  no  acelerador.  Segundos  depois,  estava  pegando  a  Silver  Hill  Road  a  toda  a
          velocidade.


          CAPÍTULO 48

                 No calor do momento, o agente Nuñez não tinha visto outra alternativa senão ajudar o Arquiteto
          e Robert Langdon a fugir. Agora, porém, de volta à central de segurança no subsolo, ele podia ver a
          tempestade se armando depressa.
                 O  chefe  Trent  Anderson  segurava  um  saco  de  gelo  junto  à  cabeça  enquanto  outro  agente
          cuidava dos hematomas de Sato. Ambos estavam reunidos com a equipe responsável pelas câmeras,
          repassando as imagens gravadas na tentativa de localizar Langdon e Bellamy.
                 — Verifiquem as imagens de todos os corredores e saídas — ordenou Sato.
                 — Quero saber para onde eles foram!
                 Enquanto assistia àquilo, Nuñez começou a ficar enjoado. Sabia que era apenas uma questão
          de minutos até encontrarem a gravação certa e descobrirem a verdade. Eu os ajudei a fugir. Para piorar
          as coisas, uma equipe de quatro homens da CIA tinha chegado e se preparava ali perto para sair atrás
          de Langdon e Bellamy. Aqueles homens não se pareciam em nada com a polícia do Capitólio. Eram
          soldados de verdade: roupas camufladas pretas, óculos de visão noturna, armas de aspecto futurista.
                 Nuñez achou que ia vomitar. Decidindo-se, gesticulou discretamente para o chefe Anderson.
                 — Chefe, posso dar uma palavrinha com o senhor?
                 — O que foi? — Anderson seguiu Nuñez até o corredor.
                 — Chefe, cometi um erro muito grave — disse o segurança, começando a suar.
                 — Eu sinto muito e estou pedindo demissão. — O senhor vai mesmo me mandar embora daqui
          a poucos minutos.
                 — Como é que é?
                 Nuñez engoliu em seco.
                 — Mais cedo, eu vi Langdon e o Arquiteto Bellamy saírem do prédio pelo centro de visitantes.
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