Page 101 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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envolvendo-a enquanto a mão poderosa do homem agarrava seu ombro. Katherine se desvencilhou,
tomada pelo mais puro terror. A probabilidade matemática foi para o espaço, e ela pôs-se a correr às
cegas. Fez uma curva fechada para a esquerda mudando de curso, precipitando-se em direção ao
vazio.
A parede se materializou do nada.
Katherine trombou nela com força, o choque expulsando o ar de seus pulmões. A dor se
espalhou por seu braço e seu ombro, mas ela conseguiu continuar de pé. O ângulo oblíquo no qual
colidira com a parede a havia poupado da força total do impacto porém isso pouco lhe servia de
consolo. O barulho tinha ecoado por toda parte. Ele sabe onde eu estou. Curvada de dor, ela virou a
cabeça para encarar a escuridão do galpão e sentiu que ele a encarava de volta.
Mude de lugar. Agora!
Ainda lutando para recuperar o fôlego, ela começou a avançar rente à parede, tocando de leve
com a mão esquerda ao passar, cada uma das traves de metal protuberantes. Fique junto da parede
mas tome cuidado para não ser encurralada. Na mão direita, Katherine ainda segurava o celular, pronta
para usá-lo como projétil caso fosse preciso.
Ela não estava de forma alguma preparada para o som que ouviu naquele instante — o nítido
farfalhar de roupas bem à sua frente... roçando contra a parede. Katherine congelou totalmente imóvel,
e parou de respirar. Como é possível ele já ter chegado à parede? Ela sentiu uma fraca lufada de ar
permeada com o cheiro de etanol. Ele está vindo pela parede na minha direção!
Katherine recuou vários passos. Então, com um giro silencioso de 180 graus, começou a se
mover depressa na direção oposta. Tinha andando uns seis metros quando o impossível aconteceu.
Mais uma vez, bem à sua frente, ao longo da parede, ouviu o farfalhar de roupas. Então sentiu a mesma
lufada de ar e o cheiro do etanol. E ficou petrificada.
Meu Deus, ele está por toda parte!
De peito nu, Mal’akh espreitava a escuridão.
O cheiro de etanol nas suas mangas tinha se revelado uma desvantagem, então ele o
transformara em um trunfo, despindo o paletó e a camisa e usando-os para cercar sua presa. Depois de
jogar o paletó contra a parede à direita, tinha ouvido Katherine estacar e mudar de direção. Então, ao
atirar a blusa para a frente à sua esquerda, Mal’akh a ouvira parar novamente. Havia conseguido
encurralar Katherine contra a parede estabelecendo pontos que ela não se atrevia a cruzar.
Ele então esperou, aguçando os ouvidos no silêncio. Ela só pode avançar em uma direção —
direto para onde eu estou. Apesar disso, Mal’akh não conseguiu escutar nada. Ou Katherine estava
paralisada de medo, ou havia decidido ficar imóvel e esperar alguma ajuda chegar ao Galpão 5. Em
ambos os casos, ela sai perdendo. Ninguém iria entrar ali tão cedo; Mal’akh inutilizara o sistema de
acesso ao galpão com uma técnica bastante grosseira, porém muito eficiente. Depois de usar o cartão
de Trish, ele enfiou uma moeda de 10 centavos no fundo da leitora, de modo a impedir o uso de
qualquer outro cartão sem antes desmontar o mecanismo todo.
Você e eu estamos sozinhos, Katherine... pelo tempo que for.
Mal’akh foi avançando devagar, tentando escutar qualquer movimento. Katherine Solomon
morreria naquela noite nas trevas do museu do irmão. Um fim poético. Mal’akh estava ansioso para
compartilhar com Peter a notícia da morte de sua irmã. O sofrimento do velho seria uma vingança há
muito aguardada.
De repente, para grande surpresa de Mal’akh, ele viu no escuro uma luz fraca e distante e
percebeu que Katherine havia acabado de cometer um terrível erro de avaliação. Ela está telefonando
para chamar ajuda? A tela de cristal líquido que acabara de ganhar vida pairava na altura da sua
cintura, cerca de 20 metros mais à frente, como um farol aceso em meio a um vasto oceano negro.
Mal’akh tinha se preparado para esperar por Katherine, mas já não precisava fazer isso.
Ele avançou, correndo em direção à luz oscilante, sabendo que precisava alcançá-la antes de
ela conseguir completar a ligação pedindo ajuda. Chegou lá em poucos segundos e se atirou para a
frente, esticando os dois braços ao redor do celular brilhante, preparado para envolver sua vítima.
Os dedos de Mal’akh se chocaram com uma parede sólida, dobrando-se para trás e quase se
quebrando. A cabeça colidiu em seguida, arremetendo contra uma viga de aço. Ele soltou um grito de
dor enquanto desabava junto à parede.
Dizendo um palavrão, tornou a se levantar, cambaleante, apoiando a mão no travessão horizontal em
que Katherine Solomon tivera a esperteza de posicionar o celular aberto.
Katherine estava correndo de novo, desta vez sem se importar com o barulho que sua mão fazia
ao bater ritmadamente nas traves de metal espaçadas regularmente pelas paredes do Galpão 5. Corra!
Se continuasse seguindo a parede e desse a volta inteira no galpão, sabia que mais cedo ou mais tarde
encontraria a porta de saída.