Page 99 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
P. 99

Langdon  duvidava  que  existisse  algum  lugar  seguro  no  planeta  para  quem  tinha  acabado  de
          agredir fisicamente a poderosa diretora do Escritório de Segurança da CIA.
                 Depois de chegarem ao alto da escada, os dois entraram em um amplo corredor de mármore
          italiano,  estuque  e  dourações.  Oito  pares  de  estátuas  margeavam  o  corredor  —  todas  retratando  a
          deusa Minerva. Bellamy prosseguiu, guiando Langdon para o leste sob um arco abobadado, em direção
          a um espaço bem maior.
                 Mesmo sob a iluminação fraca usada fora do horário de funcionamento, o grande saguão da
          biblioteca reluzia com a grandiosidade clássica de um opulento palácio europeu. A pouco mais de 20
          metros do chão, claraboias de vitral cintilavam entre vigas enfeitadas com a rara “folha de alumínio” —
          metal na época considerado mais valioso do que o ouro. Sob as vigas, uma imponente sequência de
          colunas em pares percorria a extensão da galeria do segundo andar, acessível por duas magníficas
          escadas  em  espiral,  cujos  pilares  sustentavam  gigantescas  estátuas  de  bronze  de  mulheres
          segurando’tochas que representavam o conhecimento.
                 Em  uma  tentativa  bizarra  de  refletir  o  tema  do  saber  moderno  sem  desrespeitar  o  registro
          decorativo da arquitetura renascentista, os corrimãos das escadas haviam sido esculpidos com figuras
          de meninos parecendo cupidos, porém retratados como cientistas modernos. Uni eletricista angelical
          segurando  uni  telefone?  Uni  querubim  entomologista  com  um  espécime  numa  caixa?  Langdon  se
          perguntou o que Bernini teria achado daquilo.
                 — Vamos conversar aqui — disse Bellamy, passando com Langdon em frente às vitrines à prova
          de bala que abrigavam os dois livros mais valiosos da biblioteca: a Bíblia Gigante de Mainz, escrita à
          mão em 1450, e o exemplar norte-americano da Bíblia de Gutenberg, um dos três únicos em velino no
          mundo em perfeito estado. Apropriadamente, o teto abobadado acima daquele espaço exibia os seis
          painéis pintados por John White Alexander intitulados A Evolução do Livro.
                 Bellamy seguiu direto até um par de elegantes portas duplas no centro da parede do final do
          corredor  leste.  Langdon  sabia  muito  bem  o  que  havia  ali,  mas  achou  a  escolha  estranha  para  uma
          conversa. Não bastasse a ironia de se falar em um espaço cheio de placas de “Silêncio, por favor”,
          aquela  sala  estava  longe  de  parecer  um  “lugar  seguro”.  Situada  no  meio  da  planta  cruciforme  da
          biblioteca, ela era o coração do prédio. Refugiar-se ali era como arrombar uma catedral e ir se esconder
          no altar.
                 Mesmo  assim,  Bellamy  destrancou  as  portas,  adentrou  a  escuridão  do  outro  lado  e  tateou  à
          procura do interruptor. Quando ele acendeu a luz, uma das grandes obras-primas arquitetônicas dos
          Estados Unidos pareceu se materializar do nada.
                 A famosa sala de leitura era um banquete para os sentidos. Um volumoso octógono com quase
          50 metros de altura no ponto central, tinha os oito lados revestidos de mármore do Tennessee cor de
          chocolate, mármore de Siena creme e mármore argelino vermelho. Como o ambiente era iluminado de
          oito  ângulos  diferentes,  nenhuma  sombra  caía  em  lugar  nenhum,  dando  a  impressão  de  que a  sala
          reluzia.
                 — Há quem diga que esta é a sala mais bonita de Washington — disse Bellamy.
                 Talvez  do  mundo  inteiro,  pensou  Langdon  ao  cruzar  o  limiar.  Como  sempre,  seu  olhar  foi
          primeiro  atraído  para  cima,  até  a  altíssima  claraboia  central,  da  qual  altos-relevos  em  gesso  se
          irradiavam, formando arabescos sinuosos cúpula abaixo até uma galeria superior. Ao redor da sala, 16
          estátuas  de  bronze  de  personagens  ilustres  espiavam  da  balaustrada.  Abaixo  delas,  uma
          impressionante  arcada  formava  uma  galeria  inferior.  No  nível  do  chão,  três  círculos  concêntricos  de
          escrivaninhas de madeira polida se estendiam a partir do imenso balcão de empréstimo octogonal.
                 Langdon voltou novamente a atenção para Bellamy, que prendia as portas duplas da sala para
          mantê-las abertas.
                 — Pensei que estivéssemos nos escondendo! — disse Langdon, sem entender.
                 — Se alguém entrar no prédio — disse Bellamy —, quero ouvir quando chegar.
                 — Mas aqui não seremos achados num instante?
                 — Seja qual for o nosso esconderijo, eles vão nos encontrar. Mas, se alguém nos encurralar
          aqui dentro, o senhor vai ficar muito grato por eu ter escolhido esta sala.
                 Langdon não fazia a menor ideia do porquê, mas Bellamy aparentemente não estava disposto a
          conversar a respeito. Ele já tinha avançado para o centro da sala, onde escolheu uma das mesas de
          leitura, puxou duas cadeiras e acendeu a luminária. Então, apontou para a bolsa de Langdon.
                 — Muito bem, professor, vamos examinar melhor isso.
                 Sem querer correr o risco de arranhar a superfície encerada com um pedaço áspero de granito,
          Langdon  pôs  a  bolsa  inteira  em  cima  da  mesa  e  abriu  o  zíper,  abaixando  as  laterais  para revelar  a
          pirâmide lá dentro. Warren Bellamy ajustou a luminária e estudou a pirâmide atentamente. Correu os
          dedos por cima da inscrição pouco usual.
   94   95   96   97   98   99   100   101   102   103   104