Page 102 - dan brown - o símbolo perdido_revisado_
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Onde está a droga do vigia?
O espaçamento regular das traves continuava à medida que ela tocava a parede lateral com a
mão esquerda, mantendo a direita esticada na frente do corpo para se proteger. Quando é que vou
chegar à quina? A parede lateral parecia não ter fim, mas de repente a sequência de traves foi
interrompida. Sua mão esquerda não tocou em nada por vários passos compridos, e então as traves
voltaram a aparecer. Katherine freou e deu meia-volta, tateando o painel de metal liso. Por que não há
nenhuma trave aqui?
Agora ela conseguia ouvir seu agressor perseguindo-a ruidosamente, deslizando as mãos pela
parede enquanto avançava na sua direção. No entanto, foi outro som que deixou Katherine ainda mais
assustada — as batidas ritmadas de um vigia esmurrando a porta do Galpão 5 com sua lanterna, ao
longe.
O vigia não está conseguindo entrar?
Embora esse pensamento fosse aterrorizante, a localização do barulho — à direita de onde ela
estava, no sentido diagonal — fez com que Katherine se orientasse na mesma hora, conseguindo
visualizar em que parte do Galpão 5 estava. O lampejo visual trouxe consigo uma compreensão
inesperada. Finalmente sabia o que era aquele painel liso na parede.
Todos os galpões eram equipados com um acesso para espécimes — uma gigantesca parede
deslizante que podia ser deslocada de modo a permitir a entrada e saída de espécimes de grande
porte. Essa porta era descomunal, como as de um hangar de aeronaves, e Katherine jamais imaginara,
nem em seus sonhos mais delirantes, que um dia fosse precisar abri-la. Naquele instante, porém, ela
parecia ser sua única chance.
Mas será que esta porta funciona?
Tateando às cegas, Katherine encontrou a grande maçaneta metálica da porta. Segurando-a
jogou o peso do corpo para trás, tentando fazer a porta deslizar. Nada. Tentou outra vez. Ela não saiu
do lugar.
Katherine conseguia ouvir seu agressor se aproximando mais depressa, atraído pelo barulho de
suas tentativas, O acesso está trancado! Enlouquecida de pânico, ela deslizou as mãos por toda a porta
em busca de alguma alça ou alavanca. De repente, esbarrou com o que parecia uma haste vertical.
Seguiu aquilo até o chão, agachando-se, e pôde sentir que a haste estava inserida em um buraco no
cimento. Uma trava de segurança! Ela se levantou, segurou a haste e, usando as pernas para tomar
impulso, a deslizou para cima, tirando-a do buraco.
Ele está quase chegando!
Katherine então procurou a maçaneta e, ao encontrá-la, puxou com toda a sua força. O imenso
painel mal pareceu se mover, mas uma nesga de luar penetrou no Galpão 5. Katherine puxou outra vez.
O facho de luz vindo do lado de fora se alargou. Um pouco mais! Ela deu um último puxão, sentindo que
seu agressor estava agora a poucos metros de distância.
Saltando em direção à luz, Katherine espremeu o corpo esbelto pela abertura. A mão do seu
perseguidor se materializou no escuro em sua direção, tentando puxá-la de volta para dentro. Ao passar
de lado pela porta, ela viu um imenso braço nu coberto de tatuagens vindo no seu encalço. Aquele
aterrorizante braço escamoso se contorcia feito uma cobra tentando agarrá-la.
Katherine girou o corpo e saiu correndo junto à parede externa comprida e clara do Galpão 5.
Enquanto corria, o chão de pedrinhas soltas que contornava todo o CAMS cortava seus pés protegidos
apenas pela meia-calça, mas ela continuou assim mesmo, encaminhando-se para a entrada principal. A
noite estava escura, porém, com os olhos totalmente dilatados por causa do denso breu do Galpão 5,
ela conseguia enxergar com perfeição — quase como se fosse dia. Às suas costas, a grande porta de
correr se abriu mais um pouco e ela ouviu passos pesados se acelerarem atrás dela. Eles soavam
inacreditavelmente velozes.
Eu nunca vou conseguir chegar mais depressa do que ele até a entrada principal. Ela sabia que
seu Volvo estava próximo, mas até mesmo isso seria longe demais. Não vou conseguir.
Então, Katherine percebeu que tinha uma última carta na manga.
Ao se aproximar da quina do Galpão 5, pôde ouvir os passos dele alcançando-a rapidamente no
escuro. É agora ou nunca. Em vez de fazer a curva, Katherine dobrou abruptamente à esquerda,
afastando-se do complexo em direção à grama. Ao mesmo tempo, fechou os olhos com força, tapando
o rosto com as duas mãos, e começou a correr totalmente às cegas pelo gramado.
A iluminação de segurança ativada por sensores de movimento ganhou vida ao redor do Galpão
5, fazendo a noite virar dia em um instante. Katherine ouviu um grito de dor às suas costas quando os
holofotes brilhantes queimaram as pupilas hiperdilatadas de seu agressor com uma luminosidade
equivalente a mais de 25 milhões de watts. Ela pôde ouvi-lo tropeçar nas pedras soltas.